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Talvez antes tivéssemos mais. É difícil se posicionar no
tradicional jogo do tempo e decidir se se prefere o passado ou o
presente (enquanto o futuro se revela incerto). Dizer que a política
já não existe mais ou de que está sem gás, talvez seja pura falta
de visão para além de grupos partidários, pois movimentações não
partidárias ou não arregimentadas aparecem cada vez mais, e vem se
mostrando eficientes. Ou então colocar de que na política restou
apenas frivolidades cotidianas, como o jeito que se escovam os dentes
numa citação direta a Pondé, me parece também uma falta de visão
para além de teorias totalizantes. Sabemos bem o que queremos, as
vezes tão bem que acabamos caindo no pecado do cientista, o do foco
excessivo. Porém falta algo mais em meio a política e a vida cada
vez mais confortável – e estática – que galgamos ao longo do
tempo.
Posso estar carregado de saudosismo, mas já indico que meu
saudosismo com o passado se resume a uma máquina do tempo apenas
para matar curiosidades e logo voltar. Entretanto o passado por vezes
revela elementos distintos e que por vezes sejam interessantes. Mesmo
vivendo em uma paz, uma não violência (física), incomparável com
a Idade Média ou o mundo antigo, a falta de um desafio maior do que
ascender em alguma carreira numa empresa de sucesso, ou a segurança
de nossas rotinas acabam tirando algo do viver. Voltar ao passado se
mostra uma conclusão de pouca reflexão, o que desejo é olhar para
tempos passados o suficiente para mudar o presente. Dai a piada que
muitas vezes possa parecer um retorno as histórias de cavaleiros.
Precisamos de algo para lembrar que estamos vivos, e quiçá por
vezes a dor sirva para isto.
E aqui entra Freud, autor que nunca li mais do que um ou dois textos,
mas que parece evidenciar um dos inúmeros elementos modernos: a
centralidade do sexo em nossas vidas. Podemos indicar o exemplo dos
vitorianos, sempre tão vistos como gente que ignora o sexo.
Entretanto é com eles que se começa a falar sobre o sexo como
nunca, livros e trabalhos acadêmicos começam a surgir nesta época.
Nossa opinião a respeito dos vitorianos se faz devido a nossa visão
contemporânea sobre o sexo. Se me pedirem para indicar algo que
indique a centralidade do sexo hoje, indicaria as comédias-românticas
e suas inúmeras cenas envolvendo sexo ou em trocadilho direto.
Recordo que este texto é uma generalização, e para generalizar é
necessário recorrer ao grosseiro.
Algumas vezes a vida só parece ter sentido graças ao sexo, as
constantes utilizações de um vocabulário para “coisas boas” e
sexo são recorrentes (orgasmo, gozar). Assim como uma fatal
associação da palavra prazer. Parece que a única coisa que ainda
faz muita gente se sentir viva é o sexo. O tempo e dinheiro que se
dispende com isso é incrível, a atenção (desde Freud talvez) ao
sexo está em um mesmo patamar. Me impressiona a necessidade cobrada
das pessoas para que tenham uma vida sexual ativa. Celibato é muitas
vezes sinônimo de piada. Talvez porque soe estranho abrir mão de
algo (ao menos) visto como tão prazeroso. Não por acaso muita gente
indique o sexo como uma necessidade tão básica quanto comer e
dormir.
Entretanto podemos facilmente entrar numa crise ao percebermos esta
limitação em que chega nossas vidas, percebendo que boa parte do
viver está associado ao sexo. Resumir a vida a um único elemento
soa desesperador, limitado, e logo aquilo que antes parecia indicar
tão bem o quanto estávamos tão vivos, revela o quão previsíveis
e repetitivos estamos. Então numa completa revolta podemos abrir mão
deste elemento tão central de nossa vida
moderna/pós-moderna/pós-pós-moderna, e nos darmos conta de que
viver hoje em dia muitas vezes seja limitado. E talvez cheguemos a
conclusão de que nos restou apenas o sexo por ainda não haver como
nos privar de nosso corpo e nossa humanidade.
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¹ ou: "O que nos restou é o sexo". O texto não procura abordar unicamente o filme, mas sim reflexões que tem relação direta com a obra. Por isso recomendo assistir o filme, disponível aqui.
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