Algo muito particular a condição humana é a linguagem. Não somos
os únicos detentores a possuí-la, podemos observar a linguagem
entre outros animais, porém o peso da linguagem para o Homem é
outro. Mais do que isso, também utilizamos a linguagem para
transmitir mais coisas do que aquelas que os olhos podem ver. Nossa
capacidade linguística é diferente devido a nossa abstração. É
regra geral ao ser humano sua abstração e linguagem. A abstração
nos possibilita o pensamento, a linguagem nos possibilita trabalhar
sobre este pensamento. Ao se estudar o homem, a linguística deve
estar ali, é uma parte de seu meio.
É cada vez mais comum nos estudos humanos, ser levado em
consideração a linguística, seja na sociologia, filosofia ou
história. Estas ciências enquanto ocupadas do homem, se ocupam
também de suas relações, e é por meio das palavras que elas
ocorrem. Os significados estão nas palavras, mudando seu sentido em
diferentes culturas. É necessário medi-las quando se conversa com
alguém.
Ferdinand de Saussure parece ter sido um linguista muito particular
de seu tempo. O curioso entretanto é que este livro não foi escrito
por ele, o que temos são anotações de suas aulas organizadas e
editadas, procurando transmitir seus ensinamentos para a posteridade.
Segundo tudo indica, ele se mostrava um sujeito inovador dentro do
campo linguístico de sua época. Ao longo do livro podemos perceber
que ele consegue dialogar muito bem com um lado mais tradicional da
linguística, onde se está mais ligado a gramática, quanto a um
campo mais aberto, que trata das relações do Homem com a linguagem.
Esta última parte é para os não linguistas a parte mais vital.
Quando se toma um contato primário com os estudos da linguagem, é
comum alguma confusão, pois ela é algo muito escorregadio, após
ditas as palavras se vão e mesmo se repetidas, cada vez que se
escuta, atos como a entonação, as gesticulações ou até mesmo a
ocasião podem trazer novos significados. Talvez por isso seja tão
complicado para um acadêmico lidar com a linguística nos seus
primeiros semestres, por mais interessante que pareça. Neste sentido
uma obra que aborde o caráter geral seja muito válida.
Há vários cursos gerais de linguística, de variados autores, porém
a escolha por Saussure se dá pelo estruturalismo. Esta coisa chamada
estruturalismo parece iniciar no campo linguístico e Saussure é
apontado como o patrono (junto com Marx), entretanto não se pode
afirmar que Saussure seja um estruturalista. Ao se estudar uma língua
estrangeira se percebe que a estrutura da frase muda. Quanto mais
diferente a língua, maiores diferenças na estrutura. Partindo dai,
podemos entender que cada sociedade, tal qual suas diferenças
linguísticas, muda em relação a outra.
O que chama atenção em Saussure no seu curso é a sua atenção em
relação a linguagem e o Homem. Não é dado ao ser humano algum
mérito especial pela linguagem, como ele coloca “não
está provado que a função da linguagem, tal como ela se manifesta
quando falamos, seja inteiramente natural, isto é: que nosso
aparelho vocal tenha sido feito para falar, assim como nossas pernas
para andar”1.
A linguagem é portadora de ideias, que se transformam junto com a
linguagem. Esta linguagem é constituída por mais do que as
palavras. A imagem também é constituidora de pensamento, Benjamin
já nos alertou sobre isso. A linguagem se confunde com o pensamento.
1SAUSSURE,
Ferdinand. Curso de linguística geral. São
Paulo: editora Cultrix ltda, 1975, p. 17.