O século XIX é interessante por todas as questões que estavam no ar durante o período. A ciência, me parece, surgia como a grande aposta do dia, não por acaso hoje a ciência dá o tom para nossas disputas em torno da verdade – e neste ponto Nietzsche é certeiro ao anunciar a “morte” de Deus e seus “assassinos”.
Dostoiévski está claramente inserido neste contexto. Se sabe que ele recebera uma educação formal européia-iluminista (ou vocês acham que desde sempre se estudou matemática, geografia, história, física, química, na escola?) apesar de ser marcado por uma forte tradição religiosa, que na época se encontrava em maior atuação. Crime e castigo deixa por entre suas páginas escapar um pouco do “espírito da época”, em especial no que vai tanger a Rússia e sua particular situação. O período em que viveu Fiódor é considerado um dos mais produtivos para Rússia até então, não por acaso que boa parte dos escritores clássicos russos são deste período. Mesmo com uma minoria absoluta freqüentando universidades, a população universitária aumenta significativamente neste período. Algumas coisas que esta edição da Editora 34 traz em notas de rodapé e no prefácio de Bezerra colaboram em muito para perceber estas minúcias deixadas ao longo da história.
Um fato que me ronda já desde antes de ler este romance é a má impressão que o capitalismo deixou
O livro se preza por uma questão que dificilmente conseguimos discutir sem estarmos amarrados as correntes habituais. E para mim ai está a originalidade deste russo, por conseguir desenvolver caminhos que transitam por lugares pouco habituais, em especial se levarmos em consideração os limites de seu tempo, e digo isto apesar de não acreditar que neste escritor se possa encontrar algum manual da vida, e este é o fato que me faz ver nele para além de uma história que me entretenha – fato cada vez mais difícil de ser visto por mim.
[1] O artigo de Adriana Caúla se encontra no livro “Corpos e Cenários Urbanos”.
[2] Filme de Robert Bresson, de 1959, e apesar de não ser uma adaptação tão clara, traz inúmeras questões e referências diretas ao livro.
[3] Filme dirigido por Heitor Dhália de 2004, é também uma adaptação mais “moderna” da obra, porém este filme é claramente um pouco mais próximo da obra.
Oi André,
ResponderExcluirBastante interessante o blog. Texto claro e fluente. Muito bom. Gosto daqui. Boas sínteses e belas análises.
Abraço,
Gustavo
Orbigado, sempre que quiser ler, escrever, use o espaço possível daqui!
ResponderExcluirAbraço!