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Sou um péssimo leitor de poesia, mas há algo em Manoel de Barros
que me fascina. Creio que é sua proximidade com a natureza, não por
acaso o Pantanal aparece constantemente. Vi em alguma entrevista de
que Manoel de Barros não tem grande amor pela cidade, mas sim pelo
Pantanal. Sua experiência na cidade não fora grande coisa, ao menos
parece. Mesmo tendo viajado para várias cidades importantes,
metrópoles, seu ambiente parece estar na mata.
Seus poemas parecem aproximar uma lupa sobre este verde que fascina,
mas esta lupa de Manoel não parece cair no pecado do cientista, pois
esta aproximação não busca o estudo de um assunto restrito
esperando como conclusão a exaustão. Talvez busca nesta sua
aproximação um distanciamento, dai sua referência a infância. O
mundo adulto dá vontade de fugir, mas não para a cidade onde
ninguém nos acha, mas para infância, quando a visão não estava
tão viciada.
Esta aproximação com a natureza, apesar de poder parecer demais
idílica e paradisíaca, acaba refletindo algo tão próximo de nós
que acabamos não nos dando conta. De alguma forma Barros está
falando do Brasil, que apesar de Belo Monte e toda uma sede de largas
fatias da sociedade em busca de uma reprodução tropical do que se
entende por Europa, vivemos num lugar diverso, plural, que não cessa
de se mover. Esta é a mata, que além de cercar nossas cidades
(Blumenau, Rio de Janeiro), cerca boa parte de nosso viver. Talvez
seja mais necessário se refugiar para as montanhas do que trancar-se
em casa. Creio que o selvagem transite entre a metáfora e o literal.
Sua proximidade com a natureza pode fazer com que sua poesia seja
muito interessante a biólogos e deleuzianos. Já que é uma
aproximação que não busca em momento algum naturalizar algo,
arrisco dizer até que o contrário.
Tal desconstrução de lugares tão comuns não ocorre apenas por
meio dessa constante figura do pantanal, a língua também entra no
samba. No próprio título do livro já está explícito o que se
encontrará repetidas vezes ao longo do livro. Como o autor bem
indicou, agramaticar é parte
fundante de sua poesia. O poeta brinca com a língua, faz da língua
sua, se apropria dela e dança com ela, fazendo com que ela ceda aos
movimentos necessários. Tudo isso ocorre numa tal harmonia que por
vezes é custoso perceber. Tal atitude me lembra o que crianças
muitas vezes fazem sem grande esforço, e nós tão orgulhosos da
vida adulta, rimos tratando algumas vezes com escárnio. Sua
agramáticação está intimamente ligada a natureza constantemente
descrita, já que sua poesia parece ser em grande medida rizomática.
E coloco isto considerando o fato de Manoel de Barros não ter ideia
de quem seja Gilles Deleuze.
Não bastasse, Manoel de Barros se mostra como uma figura
interessante, filiado ao Partido Comunista Brasileiro em sua
juventude, o abandonou assim que Prestes e Vargas realizaram a famosa
aliança, e quando fora indicado a academia brasileira de letras,
preferiu não. Este poeta do pantanal pode orgulhar-se de escrever
poemas que grudaram um péssimo leitor de poesia ao livro.
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