Já postei aqui sobre a questão Palestina por meio do trabalho de
Joe Sacco. Li também seu trabalho mais recente, Notas de Gaza,
que se mostrou tão bom quanto o Palestina: uma nação ocupada.
Neste sentido, Valsa para Bashir se mostra como um complemento
riquíssimo para estas duas obras que eu já conhecia. O filme é uma
bela animação com uma boa trilha sonora, que vai tratar do massacre
que ocorrera durante a guerra civil libanesa no campo de refugiados
palestinos Sabra e Bashila na região de Beirute (capital do Líbano).
O filme tem um toque de sensibilidade único, creio que as paisagens
e os diálogos em hebraico fortalecem isto.
O documentário-animação se sustenta nas memórias recentes de um
tal diretor de documentários1
que participou da invasão israelense durante a guerra civil libanesa
enquanto cumpria o serviço militar obrigatório(que em Israel dura
três anos). A idade e o tempo bem nos ensinam que nossas memórias
vão ficando nubladas, e buscamos esquecer principalmente aqueles
fatores que nos desagradam. Por isso é difícil para o personagem
principal restituir as peças do infeliz episódio em Beirute.
Algumas coisas não ficam claras no filme e vale a pena trazer. O
elemento que norteia a guerra civil é a eleição de Bashir para
presidente do Líbano. Porém o fato é que, na legislação da época
ao menos, apenas pessoas da religião católica meronita poderiam ser
eleitos presidentes (confesso que desconheço a situação atual
libanesa). De quebra a OLP (grupo do Yasser Arafat) estava instalado
fazia algum tempo em Beirute, assim como vários campos de refugiados
palestinos, fatores mal vistos pelas Falanges Libanesas (facção
armada de maioria meronita), que junto com a OLP exercia um
para-Estado dentro do Estado libanês.
Geralmente quando se fala de Israel e seus conflitos esquecemos que
muitos dos soldados não servem por que querem, até porque o serviço
é obrigatório, e mesmo dentro de um tanque sente-se medo já que se
pode levar um tiro a qualquer momento. É um filme que consegue ser
crítico a situação de guerra na região sem fazer uma risca
dividindo entre “bons e ruins”. O próprio esquecimento revela a
aversão a tais memórias...
Em boa medida a obra fugiu de lugares comuns, exceto talvez no
quesito dos relatos de guerra, que salvo filmes fictícios, são
sempre rodeados pelo tédio e desespero. Mas imagino que uma guerra
deve ser assim mesmo, aliás, também não desejo ter contato algum
com tal experiência.
1Ao
que tudo indica é o próprio Ari Folman.
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