Hoje em dia nem tanto, mas durante a minha infância e os anos 90 praticamente todo dia tínhamos uma manchete a respeito dos confrontos envolvendo o Estado de Israel. Certamente uma manchete de, na maioria das vezes, menos de 1 minuto não vai esclarecer nada e acaba gerando a crença de que sabemos o suficiente sobre o assunto por ver algo sobre ele todo dia. Também vivemos uma correria do dia a dia e o jargão de “não tenho tempo” é constante. Nisto o trabalho de Joe Sacco onde ele realiza um jornalismo de qualidade (e devo admitir aqui que não gosto de 95% do que é produzido por jornalistas) aliado a quadrinhos de qualidade se torna cada vez mais de meu agrado.
Em geral a produção dos quadrinhos jornalísticos de Sacco são muito didáticos, digo isto pois eles introduzem bem um assunto, como a questão do fim da Iugoslávia ou a situação palestinos-Israel, não desconsiderando fatos passados e buscando ao máximo evitar a tendência de separar entre mocinhos e bandidos como muitas pessoas com a cabeça ainda na guerra fria gostam de pensar.
Este é o trabalho que rendeu prestígio para Joe Sacco, publicado nos idos da década de 1990 quando a situação parecia estar melhorando, onde tínhamos o reconhecimento mútuo da OLP e de Israel. O trabalho consiste em entrevistas com moradores de campos de refugiados (que já são cidades) e alguns judeus. O trabalho de Sacco trás coisas muito interessantes a respeito do conflito na região como o alto controle de Israel sobre a população palestina e as medidas tomadas para este controle (entre elas a tortura) e a questão do Estado de Israel (e o próprio sionismo). A situação desde a época em que fora publicada esta obra mudou muito.
O livro-quadrinho traz além destas questões da grande política alguma coisa a respeito do movimento feminista entre as palestinas, o que ajuda em muito a mudar os óculos com que se vêem os povos genericamente chamados de árabes, entre eles os palestinos.
É interessante que Joe Sacco não busca entender o conflito pelo viés religioso, mas sim por um viés muito mais político. A Obra trata de vários assuntos também, não deixando de fora, apesar de nas entrelinhas, notas a respeito do cotidiano na região (como o chá, o frio, os conflitos, as pessoas falando várias línguas, os colonos andando armados) o que cria um imaginário interessante a respeito da região.
Uma ótima leitura, e talvez uma boa oportunidade de ficar um pouco mais por dentro da questão palestina.
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