quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Lutando na Espanha - George Orwell

O livro é na realidade uma junção de outros escritos e adendos. A parte do livro que narra a presença de Orwell na guerra civil espanhola é o “Homenagem à Catalunha”. As narrativas são impressionantes para se pensar o que foram aqueles dias. A narrativa de Orwell é muito entusiasta e devo confessar que o desenrolar da história me surpreendia pois a única coisa a respeito da guerra civil espanhola que eu sabia era que a Itália fascista e a Alemanha nazista deram apoio a Franco e que os revolucionários perderam a guerra. E mesmo imaginando o final (esse talvez seja o problema de contar uma “estória” com história) o livro me empolgou bastante.

O livro conta casos engraçadíssimos que ocorreram com Orwell durante a guerra e ajuda a dar uma noção do que era ficar naquelas trincheiras dias... É engraçado as observações de George Orwell a respeito dos espanhóis, em especial no que diz a respeito do horário, onde os espanhóis nunca acertam a hora, geralmente atrasados, mas vez por outra para a surpresa de todos, adiantados. Para se ter noção da indignação do inglês (o que imagino explica sua indignação) ele relata que a primeira palavra que ele aprendeu na Espanha fora mañana, pois segundo o autor sempre que perguntava a respeito de algo lhe respondiam mañana. Porém estas observações de George Orwell não podem ser consideradas preconceituosas a respeito dos espanhóis, pelo contrário, fica claro a paixão de Orwell por esse país, pela gente que lá vivia, não por menos que ele, assim como tantos outros, arriscou sua vida naquela guerra. Por sinal a indignação de Orwell a respeito da passividade das pessoas e jornalistas a respeito da guerra civil espanhola deixa claro esta sua paixão pelo lugar.

Certa vez tive a oportunidade de conversar com um espanhol, e fora justamente durante o período em que eu estava lendo o livro, não resisti em perguntar para ele a respeito da guerra civil espanhola, especialmente pelo fato de ele ser formado em uma área das humanas que não me recordo ao certo qual. Ele havia me dito que em geral, para as pessoas mais velhas e para a Espanha em si ainda é complicado falar a respeito da guerra ou de Franco, os mortos e desaparecidos foram enormes. A Espanha por sinal é uma monarquia e como reflexo da guerra e dos longos anos da ditadura de Franco, aqueles sindicatos que haviam durante a guerra não existem mais. A título de ilustração temos uma ilustração do que fora o governo franquista no fundo do filme “A Culpa é do Fidel” de Julie Gavras e a viagem que seu pai, Costa Gavras acompanhado de Michel Foucault e outros intelectuais fizeram a Espanha para protestar contra a pena de morte dada a presos políticos. Esses seriam dois casos do que ocorreu em território europeu até o fim do governo de Franco em 1975.

Lembrando também que havia pouco tempo a URSS existia e a Alemanha e a Itália tinham enorme quantidade de pessoas ligadas ao comunismo, socialismo e anarquismo, fazia pouco tempo havia ocorrido a revolução mexicana... O interessante deste tempo é que tínhamos estes extremos, os revolucionários e os conservadores. A primeira metade do século XX fora certamente uma época de grande agitação política, e nisto o livro de Orwell é certeiro pois narra como fora o calor do momento daqueles tempos.

Aliás, o livro ajuda muito a compreender onde Orwell queria chegar com “A revolução dos Bichos” e “1984”.

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