O pouco de literatura japonesa que conheço me fascina. Não creio
que os venero tanto quanto os russos ou os beatniks, mas é certo que
eles tem um lugar especial no meu coração. Definitivamente meu
fascínio é pelo simples fato da literatura japonesa ser
simplesmente particular e dentre eles Kawabata é o grande mestre.
Conheci sua literatura por meio de Mil Tsurus.
Onde fica evidente um conflito oriente x ocidente. Mesmo que seja
bater na mesma tecla, olhar o outro ajuda a entendermos nós mesmos,
Tdorov dá esta brecha ao lermos livros como A conquista da
América. Pelo fato destes
estranhos e bizarros japoneses nos enxergarem da mesma forma, como
seres exóticos afinal, gosto de lê-los.
Contos da palma da mão têm
a felicidade de organizar os escritos pela ordem cronológica, esta
organização nos permite perceber uma série de questões. Vamos
percebendo ao longo do tempo que este choque entre o invasivo mundo
ocidental e a cultura tradicional japonesa se tornam um elemento cada
vez mais perceptível, especialmente no período imediato ao
pós-guerra.
Porém o elemento mais nítido nos
escritos de Kawabata, e apenas recentemente percebi isto, é sua
preocupação estética. A primeira pergunta que pode ser feita é:
“como a estética pode estar na literatura?”, foi o que pensei ao
menos, até porque normalmente a palavra “estética” acaba
resumido ao “bonito” e “feio”. Bem, foi necessário um mínimo
de entendimento do que seria a estética – o que não é tarefa
fácil – para entender Kawabata.
Há uma atenção dada pelo autor em
elementos que apenas podemos sentir de forma muito específica, como
por exemplo uma brisa outonal. É complicado compreendermos este tipo
de citação no meio de uma história, porém, quem já sentiu esta
tal brisa outonal, sabe da importância que isto têm para vida. Ler
também é uma forma de deixar-se entregar a sensações, mesmo que
não sejam tão intensas e simples de serem alcançadas como outros
meios mais simples, a exemplo do consumo de drogas como álcool ou
cafeína. Entretanto Kawabata procura fazer o leitor sentir estes
elementos estéticos, para além de contar uma história.
Posso estar afinal, completamente
errado e estar sendo demasiado simplista. Porém apenas recentemente
este elemento sensorialista ficou evidente para mim, ou melhor,
apenas recentemente pude sentir tais sensações. Sua preocupação
talvez esteja num dos elementos mais importantes da escrita, produzir
sensações, e isto não é tarefa fácil.
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