Atualmente não podemos negar a importância da internet para isto
que chamamos de liberdade, especialmente a pessoal. Os eventos que
ocorreram na Tunísia, Egito, Israel, Turquia, São Paulo... soube de
todos eles pela internet muito antes de passar na mídia
convencional. Entretanto vejo que esquecemos muitas vezes que antes
da internet já haviam alternativas para a mídia convencional e
monopolizadora acima de tudo, dos quais podemos citar conglomerados
como Globo, Abril, Televisa (México), Clárin (Argentina) e por ai
vai. Defendem a liberdade de expressão até onde vão seus
interesses, numa sociedade onde a informação se mostra cada vez
mais estratégica, manipular (igual um químico manipula elementos)
esta informação é algo de suma importância. O principal interesse
de uma empresa é o lucro, e não vamos esquecer a mídia
convencional é formada por empresas, que visam o lucro. Detalhes a
parte podemos perceber que uma série de assuntos acabam não
sofrendo abordagem, seja pelo desinteresse, medo ou falta de público
para tal assunto.
Neste ponto uma coisa que rolava muito antigamente era a troca de
material. Emprestar discos, gravações em fitas k7 ou na casa de
algum amigo para escutar música eram práticas normais e
corriqueiras. Muitas vezes alguém mais abonado conseguia viajar para
outro lugar, dentro ou fora do país, e de lá trazia algum som novo
que estava longe de tocar nas rádios, ou a exemplo do chamado rock
gaúcho, estava restrito a uma região. Não só isso, como há
sempre a produção independente local, sem apoio de gravadoras ou
alguma rádio – papel que a Rádio Atlântida, filiada a “toda
poderosa” RBS, exerceu de alguma forma durante muito tempo nos
estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Verdade seja dita
conheci muito material por meio desta mídia convencional, foi numa
grande rádio que ouvi the Doors pela primeira vez e assisti Pulp
Fiction na programação tardia de uma grande rede televisiva, mas
foi graças a trocas com amigos e conversas que aprendi e conheci
muito mais.
Também existem – sim ainda existem, a internet só está somando –
esses outros meios. Como eu era um singelo garotinho durante os anos
1990, ficava complicado sair de casa. Ainda brincava e era esta
atividade essencial que tinha com meus amigos durante minha
pré-adolescência. Porém devo muito ao contato com as pessoas mais
velhas ao meu redor, meu tio é que emprestou o cd do Lez Zeppelin
para minha irmã gravar numa fita k7 e assim podermos acessar tão
restrito material de maneira barata, que coubesse no restrito e
inexistente orçamento – meu pai não dava mesada. Minha tia
possuía a clássica coletânea do Smiths com as duas fotos do
Mccullin (se não me engano). Porém agradeço muito a minha irmã,
alguns anos mais velha do que eu, ela fazia algo que parece ser
corriqueiro até esta época, pelo que sei meus pais faziam a mesma
coisa. Era ela que ia para o centro encontrar seus amigos, sem
combinar anteriormente nem nada, sabia dos lugares frequentados pela
galera. Algumas vezes ela aproveitava para distribuir currículos,
encontrava algum amigo e já logo aproveitavam para fazer alguma
outra coisa, desde que fossem baratas, óbvio.
Numa destas investidas ao centro chegaram até minhas mãos duas
edições deste zine que rolava por aqui na cidade de Blumenau: News
the Lord Told Us. Foi por meio deste zine que muita coisa eu fiquei
sabendo e encontrei textos que falavam de coisas que refletiam muitos
sentimentos meus. Mesmo sem ter conhecido na época muito mais gente
do que a minha irmã – da qual até hoje gosto de encontrar para
“curtir um som” – foi ótimo saber que havia mais pessoas na
cidade que se interessavam pelas mesmas coisas, afinal o zine era
feito aqui. Conforme pude fui tomando contado com o que ali estava, e
outras foram aparecendo ao longo do tempo, a maior parte, como
sempre, acabei esquecendo mesmo. Guardei estes dois exemplares,
distribuídos gratuitamente e que não passavam de uma A4 xerocada
dos dois lados (uma saída barata), e recentemente devido a
modificações aqui em casa, reencontrei estes exemplares e recordei
muita coisa. E também acho que é pertinente a muitas outras coisas
que vem rolando atualmente. É pertinente ao nosso tempo.
Faz algum tempo eu vinha querendo postar material restrito, em
especial zines, no blogue, fugir às vezes da literatura que tu
consegue fácil numa livraria, seja pegando direto na estante ou
comprando nalguma loja online.
Primeiro me faltava um escâner, que agora apareceu e estou usando
ele bem feliz (minha vida social está um pouco mais restrita,
verdade). Foi então que cheguei a conclusão que deveria inaugurar
esta prática de postar alguns zines por um dos primeiros – ou o
primeiro, pouco importa afinal – material restrito que chegou a
minha mão. Espero que gostem do escaneamento do zine que disponibilizo para vocês. Está em jpg.
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