Conhecia Lourenço Mutarelli pelo livro e filme o cheiro do ralo, creio que junto com Mia Couto e Manuel de Barros ele representa o que vêm sendo produzido de melhor na literatura contemporânea de língua portuguesa. Sua escrita flui, como poucos escritores conseguem fazer, e quem escreve sabe o quanto isto é difícil, há muito trabalho para se alcançar este nível de escrita, até porque não existem fórmulas para escrever.
Já consagrado no mundo dos quadrinhos, que infelizmente desconheço, aventura-se na literatura com cheiro do ralo, escrito segundo nos conta este homem pantufa, numa semana de carnaval. Seu hábito “caseiro”, ritmado a muito trabalho, café e cigarros, estão impressos no pouco contato que tive com seu trabalho (resumido em dois livros). No caso do Natimorto, o desejo do sujeito em ficar numa sala sem sair é contagiante e ao mesmo tempo claustrofóbico, as indagações feitas pela mulher de voz abençoada faziam eco as minhas. Os diálogos rápidos que conduzem sua obra dão a fluidez e sagacidade necessárias.
Ultrapassando uma simples relação mediadas pelo sexo e o corpo, o autor vai conduzindo um personagem principal muito esperto e de raciocínio afiado, sem deixar de lado sua excentricidade. A fuga do mundo “lá fora” atinge em cheio muitos enseios meus – o que já é alguma coisa. O personagem principal não precisa daquele mundo chamado de real e existente, tudo ocorre ao redor de uma cama mofada em constantes xícaras de café. A comida é desprezada.
Há toda uma relação especial com o andar das coisas, uma fixação kafkaniana com o que está por vir. Mesmo sabendo que fumar pode lhe matar, o prazer esta em correr em alta velocidade e de pés descalços pelo fio da navalha. A coragem é necessária para fugir. Pode parecer uma observação vazia, mas há um identificação entre o agente e Raskolnikóv. Sua excentricidade e delírios caminham juntos. Não crime, pecado ou arrependimento, apenas uma mente conturbada, extremamente criativa e afiada. Odeio tais comparações, mas ambos possuem uma sinistra relação com seu quarto.
A relação com a cidade está ali também. A rodoviária, o hotel, as indas e vindas. Mesmo trancado no quarto, a cidade pulsa ali, quase feito organismo vivo, que não se vê mas sente. Igual as batidas do coração ao colar a mão no peito. A eventual “fuga” para o sítio arquitetada pelo maestro, não deixa de ser um pequeno retiro num quarto de hotel. É no microcosmo deste ambiente que as historietas ganham vida. É entre a xícaras de café que elas estão. Apesar de muitas vezes terem um simplismo, não são em momento algum menos belas. Como escutei uma vez, “algumas vezes precisamos dizer o óbvio”. Por vezes isto ocorre na obra, mas não é uma obviedade boba, vazia e sem novidade. Até porque, o ideal é dizer algo duas vezes, pois quem diz sempre é o outro para quem escuta.
Mutarelli dá vida de forma sóbria a consistente a estes personagens urbanos que podemos contemplar sentados numa mesa em algum lugar movimentado da cidade enquanto consumimos pacientemente nossa xícara de café.
Já consagrado no mundo dos quadrinhos, que infelizmente desconheço, aventura-se na literatura com cheiro do ralo, escrito segundo nos conta este homem pantufa, numa semana de carnaval. Seu hábito “caseiro”, ritmado a muito trabalho, café e cigarros, estão impressos no pouco contato que tive com seu trabalho (resumido em dois livros). No caso do Natimorto, o desejo do sujeito em ficar numa sala sem sair é contagiante e ao mesmo tempo claustrofóbico, as indagações feitas pela mulher de voz abençoada faziam eco as minhas. Os diálogos rápidos que conduzem sua obra dão a fluidez e sagacidade necessárias.
Ultrapassando uma simples relação mediadas pelo sexo e o corpo, o autor vai conduzindo um personagem principal muito esperto e de raciocínio afiado, sem deixar de lado sua excentricidade. A fuga do mundo “lá fora” atinge em cheio muitos enseios meus – o que já é alguma coisa. O personagem principal não precisa daquele mundo chamado de real e existente, tudo ocorre ao redor de uma cama mofada em constantes xícaras de café. A comida é desprezada.
Há toda uma relação especial com o andar das coisas, uma fixação kafkaniana com o que está por vir. Mesmo sabendo que fumar pode lhe matar, o prazer esta em correr em alta velocidade e de pés descalços pelo fio da navalha. A coragem é necessária para fugir. Pode parecer uma observação vazia, mas há um identificação entre o agente e Raskolnikóv. Sua excentricidade e delírios caminham juntos. Não crime, pecado ou arrependimento, apenas uma mente conturbada, extremamente criativa e afiada. Odeio tais comparações, mas ambos possuem uma sinistra relação com seu quarto.
A relação com a cidade está ali também. A rodoviária, o hotel, as indas e vindas. Mesmo trancado no quarto, a cidade pulsa ali, quase feito organismo vivo, que não se vê mas sente. Igual as batidas do coração ao colar a mão no peito. A eventual “fuga” para o sítio arquitetada pelo maestro, não deixa de ser um pequeno retiro num quarto de hotel. É no microcosmo deste ambiente que as historietas ganham vida. É entre a xícaras de café que elas estão. Apesar de muitas vezes terem um simplismo, não são em momento algum menos belas. Como escutei uma vez, “algumas vezes precisamos dizer o óbvio”. Por vezes isto ocorre na obra, mas não é uma obviedade boba, vazia e sem novidade. Até porque, o ideal é dizer algo duas vezes, pois quem diz sempre é o outro para quem escuta.
Mutarelli dá vida de forma sóbria a consistente a estes personagens urbanos que podemos contemplar sentados numa mesa em algum lugar movimentado da cidade enquanto consumimos pacientemente nossa xícara de café.
Nunca li o Mutarelli. Pô, eu consegui locar o Longe Daqui Aqui Mesmo do Antônio Bivar na biblioteca depois de muito lutar por um comprovante de residência e pra minha decepção o livro tá com mofo e eu tenho alergia.... fico daqui de longe observando-o louco para lê-lo, mas não vai dar.
ResponderExcluirMesmo assim li o começo... altamente recomendável.
Abs