Além de cineasta Jonathan Nossiter é sommelier, por isso durante
longos anos a fio ele foi percorrendo variadas localidades com sua
câmera de mão para falar sobre vinho nos principais centros
produtores. A ideia base que Nossiter carrega ao tratar do vinho, é
o curioso fato de que durante um longo período da história humana,
o vinho foi uma bebida que acompanhou as multidões. Era vinho o que
a plateia do coliseu bebia, era vinho o que era servido nos bacanais
gregos, era vinho uma das bebidas consumidas no Egito antigo ou na
mesopotâmia, não por acaso é até hoje o vinho a bebida consumida
num importante ritual religioso dos cristãos. Porém, em dado
momento mais recente, coisa de não mais de duzentos anos, o vinho
foi ganhando um caráter de aristocracia, de elite, de bebida nobre
frente a todas as outras. É ai que as coisas começam a complicar.
Atualmente a indústria do vinho gera muito dinheiro, especialmente
se olharmos para os vinhos mais famosos que ultrapassam
tranquilamente os mil reais. Nossiter vê alguns problemas no consumo
de vinho destes tempos pra cá. Seu status
de bebida nobre frente todas as outras bebidas, é uma das coisas que
mais afasta as pessoas do vinho, não propriamente evitando que elas
consumam a bebida, mas que criem uma relação pouco produtiva com
ela. Não por acaso, uma das primeiras cenas, dos primeiros locais
visitados é uma plantação de uvas Malvasia
na Itália. Duas falas marcantes são a de Nossiter explicando porque
estava lá, dizendo que havia provado aquele vinho nua cantina ali
perto e que gostou tanto que queria cumprimentar o produtor. O
produtor por sua vez, que era um sujeito velhinho acompanhado de sua
esposa, explica que a Malvasia
era plantada por ele por uma tradição de fazer o próprio vinho da
fazenda e de oferecer para as pessoas, tal qual se oferece café, em
sua explicação ele lamentava que seus vizinhos não plantavam mais
a uva, pois não valia a pena financeiramente.
Ao longo do documentário vai
ficando clara a força que grandes empresas têm frente estes
produtores pequenos, sejam alguns bem sucedidos franceses que
conseguem vender seus vinhos ainda com algum caráter de boutique,
seja um mestiço argentino acoado com sua pequena propriedade frente
grandes produtores de vinho da região de Mendoza, Argentina. A
problemática por trás destes pequenos produtores perdendo espaço
para gigantescos e até mesmo transcontinentais conglomerados, é uma
certa “standartização”
do vinho. Isto fica claro na figura de Michel Rolland e
principalmente de Robert Parker. A figura de Parker talvez seja mais
conhecida. Certamente R. Parker é o crítico de vinhos mais famoso,
e você vai ver a influência que ele tem assim que abrir qualquer
site que venda vinhos
online, e como vinhos
mais caros têm o seu preço mais alto justificado através da
pontuação dada por Parker. Desta forma, unindo as duas pontas de um
enólogo como Rolland que passa o mesmo método produtivo para vários
vinicultores e de um Robert Parker que define o bom e ruim no mundo
do vinho unicamente através de seu paladar, teremos vinhos cada vez
mais iguais, mais manipulados e sem caráter, sem uma personalidade
específica. O alerta de Nossiter não é sem exagero, vide a
quantidade de vinhos das castas Cabernet Sauvignon,
Merlot, Sauvignon
Blanc e Chardonnay.
Isso que nem estamos falando de Tannat,
Malbec, Syrah,
Riesling ou Torrontés,
mas podemos pensar em países com tradição vinífera de longa data,
como Portugal, Espanha, Alemanha, Áustria, Romênia, Grécia,
Turquia e Geórgia, cada um com sua forma de produzir e suas castas
específicas. Certamente o filme de Nossiter nos ajuda a buscar
vinhos menos óbvios e menos caros, como foi afirmado por ele numa
entrevista, devemos beber vinhos de cinco até cem dólares, com o
que ele complementou que raramente pagava mais de cem dólares pelo
fato de poucos vinhos realmente valerem isso.
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