A cidade emite sons. A cidade
comporta mais elementos do que sua forma física. A cidade é
polifônica, pois não se constitui de maneira heterogênea. Como o
próprio nome indica, Massimo Canevacci vai procurar decifrar os
sons, significados e linguagens na cidade de São Paulo durante a
década de 1980. Estamos falando de um momento muito particular, se
por um lado temos a redemocratização, de outro temos um país de
capital cada vez mais aberto. Tudo isto reflete no urbano.
A grande sacada do autor com este
livro, é sua atenção para a comunicação urbana. Esta comunicação
não é a entre duas pessoas, mas sim a da cidade, de seus prédios.
Assim como os outdoors,
as construções também têm signos. Como a cidade comporta mais do
que um tipo de gente, temos vários sons sendo produzidos. De alguma
forma é a dialética silenciosa da cidade, onde devagarinho uma
construção é derrubada, sua fachada, estrutura e toda composição
arquitetônica, construída num tempo e carregada com seus
significados, perde seu lugar para que se construa algo novo, com
outros significados e objetivos. Vemos isso o tempo todo e acabamos
não nos dando conta, afinal, pelo menos uma vez você passou por um
lugar e se deu conta que uma antiga construção já não estava mais
lá, e sim algo completamente diferente. Se por um lado vemos moda
nas construções, onde numa época se fixam pedras na parede, noutra
o uso de cobogós e brises
ao exagero, até as calhas escondidas e os gesos no teto das casas,
tudo isto carrega significado, quer dizer alguma coisa, não fosse
assim, da onde a maçante presença do “eme” amarelo daquela
cadeida de fast-food?
Ou o que dizer das novas assembleias e templos de Salomão? Não
podemos esquecer dos condomínios e dos shopping centers,
que parecem todos feitos pela mesma pessoa, já que seu desenho pouco
muda. Para completar temos as construtoras que fazem questão de
cunhar sua marca em suas construções, pois assim vendem algo mais
do que apartamentos e salas comerciais.
Tal qual uma orquestra, devemos
perceber na pluralidade de sons qual é o significado, o que se está
querendo dizer em meio a essa polifonia. É um livro chave para
percebemos no caos cotidiano do urbano um sentido. Desta forma
podemos ler o urbano, enxergar suas nuances, suas frestas e até suas
fachadas. Pensar o plural, não quer dizer aceitar um vazio de
significado, eles estão ali, em disputa, em hibridização, em
evidência ou em esquecimento.
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