terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Primer - Shane Carruth


Aviso: talvez seja melhor ver o filme antes de ler sobre ele.
Primer tem um roteiro base simples, que você já viu em outros filmes: a viagem no tempo. Conhecemos as possíveis implicações que isto traria caso sua possibilidade se concretizasse. As implicações são conhecidas e variadas, desde não cruzar com seu duplo e interferir na ordem das coisas, até a impossibilidade de ir para o futuro, já que ele ainda não aconteceu.
O que surpreende, é seu orçamento de sete mil dólares e a forma com que a história é contada. Shane Carruth é graduado em matemática e trabalhava no desenvolvimento de softwares antes de iniciar sua carreira cinematográfica, e isto faz diferença na forma com que o filme é feito. A primeira coisa, e para mim o ponto mais forte, está no fato de não haver simplificação nos diálogos, especialmente entre os dois protagonistas, mesmo quando eles discutem o aparelho que estão desenvolvendo. A descoberta é por acidente, e o acidente torna crível a descoberta dos dois amigos, eles acreditavam estar desenvolvendo algo como um redutor de peso. Como aprendemos na escola, o peso se altera alterando a gravidade e uma distorção no espaço-tempo distorceria a gravidade, logo mudaria o peso. Acidentalmente, o que ocorre no aparelho desenvolvido pelos dois amigos em sua garagem, é uma curta viagem no tempo, sempre 6 horas atrás no passado.
Em princípio a ideia era aproveitar esta vantagem para ganhar um bom dinheiro na bolsa de valores todos os dias, já que os dois são engenheiros em empresas privadas de desenvolvimento de tecnologia e sabem que o mais certo é serem demitidos quando sua vitalidade diminuir e seu salário aumentar, ali pelos 40 anos. São coisas como essa, que aparecem de soslaio ao longo do filme, que dão o toque de real para ele, que muitas vezes falta em outros filmes sobre viagem no tempo. Para reforçar esse ar de realidade e seriedade que temos ao longo de todo o filme, a estética sempre preza uma imagem complicada, pouco clara, confusa, nos produzindo um estado de pré-viagem com o tempo. A confusão narrativa é proposital, tomar contato com outras temporalidades que não a do presente, sempre nos produz uma sensação das mais estranhas – e como historiador devo dizer, das mais prazerosas também.
Desta forma, são pontos como esse, que para além do baixo orçamento de Primer, que usou e abusou de amigos e conhecidos de Carruth como atores e figurantes, bem como suas casas suburbanas, que tornam o filme interessante, conseguindo ser sério, nos prender e o melhor de tudo, não nos tratar como completos imbecis frente à tela. Afinal, se era preciso tratar de um tema já tão batido como a viagem no tempo, era necessário trazer algo de novo, Shane Carruth conseguiu.

 

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