Aviso:
talvez seja melhor ver o filme antes de ler sobre ele.
Primer tem um roteiro base
simples, que você já viu em outros filmes: a viagem no tempo.
Conhecemos as possíveis implicações que isto traria caso sua
possibilidade se concretizasse. As implicações são conhecidas e
variadas, desde não cruzar com seu duplo e interferir na ordem das
coisas, até a impossibilidade de ir para o futuro, já que ele ainda
não aconteceu.
O que surpreende, é seu orçamento
de sete mil dólares e a forma com que a história é contada. Shane
Carruth é graduado em matemática e trabalhava no desenvolvimento de
softwares antes de
iniciar sua carreira cinematográfica, e isto faz diferença na forma
com que o filme é feito. A primeira coisa, e para mim o ponto mais
forte, está no fato de não haver simplificação nos diálogos,
especialmente entre os dois protagonistas, mesmo quando eles discutem
o aparelho que estão desenvolvendo. A descoberta é por acidente, e
o acidente torna crível a descoberta dos dois amigos, eles
acreditavam estar desenvolvendo algo como um redutor de peso. Como
aprendemos na escola, o peso se altera alterando a gravidade e uma
distorção no espaço-tempo distorceria a gravidade, logo mudaria o
peso. Acidentalmente, o que ocorre no aparelho desenvolvido pelos
dois amigos em sua garagem, é uma curta viagem no tempo, sempre 6
horas atrás no passado.
Em princípio a ideia era aproveitar esta vantagem para ganhar um bom
dinheiro na bolsa de valores todos os dias, já que os dois são
engenheiros em empresas privadas de desenvolvimento de tecnologia e
sabem que o mais certo é serem demitidos quando sua vitalidade
diminuir e seu salário aumentar, ali pelos 40 anos. São coisas como
essa, que aparecem de soslaio ao longo do filme, que dão o toque de
real para ele, que muitas vezes falta em outros filmes sobre viagem
no tempo. Para reforçar esse ar de realidade e seriedade que temos
ao longo de todo o filme, a estética sempre preza uma imagem
complicada, pouco clara, confusa, nos produzindo um estado de
pré-viagem com o tempo. A confusão narrativa é proposital, tomar
contato com outras temporalidades que não a do presente, sempre nos
produz uma sensação das mais estranhas – e como historiador devo
dizer, das mais prazerosas também.
Desta forma, são pontos como esse,
que para além do baixo orçamento de Primer,
que usou e abusou de amigos e conhecidos de Carruth como atores e
figurantes, bem como suas casas suburbanas, que tornam o filme
interessante, conseguindo ser sério, nos prender e o melhor de tudo,
não nos tratar como completos imbecis frente à tela. Afinal, se era
preciso tratar de um tema já tão batido como a viagem no tempo, era
necessário trazer algo de novo, Shane Carruth conseguiu.
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