O sexo é algo que todos fazem e têm, mesmo que você esteja faz
muito tempo em abstinência (voluntária ou não), ainda “não tem
idade” ou seja lá qual for o motivo, você pelo menos uma vez na
sua vida “se tocou”, ou irá fazer tudo isso. Sexo está ai, é
feito faz muito tempo e continuaremos fazendo. Nenhuma novidade nisso
tudo.
Entretanto as diferentes temporalidades implicam em diferentes
relações sexuais, os movimentos básicos podem ser os mesmos, mas a
interpretação do ato nunca o foi, fazemos sexo e os gregos antigos
também, mas não fazemos como os gregos antigos. Reich escreve de um
tempo, que deve ser sempre levado em consideração ao lê-lo. Seu
livro “A função do orgasmo” não vai te ensinar como fazer mais
e melhor sexo, todo que ele faz é abordar este assunto de maneira
séria. Na verdade “A função do orgasmo” é uma explicação de
seu processo cientifico, sua pesquisa, que indica o orgasmo como a
característica mais importante para uma existência em paz consigo e
saudável. Wilhelm Reich deixa claro as dificuldades de seu tempo,
uma delas era tratar da questão sexual com seriedade. Como já
ilustrado em “Escute Zé ninguém”, Reich era constantemente
xingado de pervertido para baixo.
Para entender Reich é importante seu tempo, falamos dos “tempos
sombrios” (entre guerras), de um lado o modelo liberal democrático
em decadência, de outro o stalinismo (que apesar de não estar
colocado de forma clara, já demonstrava seu caráter autoritário) e
surgindo como opção temos o nazismo – visto com bons olhos pelos
liberais-democráticos. Nada promissor não é mesmo? Além disso
estamos falando dos primeiros estudos sobre a sexualidade humana,
logo é compreensível o constante ar repressivo nas entrelinhas. Há
sim, até hoje uma repressão sexual, em especial com as crianças e
jovens, desde a mão boba até coisas mais concretas como beijos e
atos sexuais. Afinal, o que determina a idade certa para o primeiro
ato sexual? A menstruação? A descoberta da ejaculação? Óbvio que
por um lado temos toda uma pressão sobre a prática do ato sexual,
que já ocorria nos tempos sombrios, onde o garanhão ganha um certo
status. Por isso não podemos
resumir a libertação sexual a prática sexual. Os chamados
pervertidos não são bem resolvidos sexualmente, e olha que tudo
indica que eles praticam sexo, certo?
Uma coisa simples que Wilhelm Reich
coloca é que a relação sexual deve ocorrer de maneira
satisfatória: ejaculação precoce, constante insaciedade
(ninfomania), satisfação pela violência, perfil de garanhão, são
indicativos de pessoas que praticam o sexo, mas acabam, segundo
Reich, não atingindo o orgasmo. A ejaculação precoce é uma
decepção para ambos os lados, não precisamos de nenhum estudo
cientifico para isso, é a pura e simples ejaculação antes da
satisfação sexual completa (orgasmo). A insaciedade seria causada
por alguns motivos, os principais são nunca atingir o orgasmo e até
mesmo um recurso de ganhar atenção. A satisfação pela violência
(sexo violento, como por exemplo vários vídeos pornôs atuais, ou
até mesmo casos mais críticos como prazer na dor alheia ou
estupro), indicariam um desejo de alcançar o orgasmo, porém este
desejo é tão grande e confuso que acaba causando uma tensão que
reflete no físico da pessoa. Na tentativa de romper esta tensão
atos violentos são a expressão mais comum (vontade de explodir), e
algumas vezes até mesmo uma repulsa, “nojo”, do ato sexual. É
bom colocar que uma certa tensão pré ato sexual é normal, porém
algumas pessoas não conseguem realizar um ato sexual satisfatório –
seja pela repressão, impedindo-o, como pelo sexo sem um desejo
sincero (algo como sexo sem um sentimento de carinho) – e acabam
ficando tensas. Esta tensão ocorre desde uma musculatura dura, tensa
(você já deve ter visto alguém ou ficado assim), até o prazer em
atos violentos sem sentido ou atitudes grosseiras durante o ato
sexual. O perfil do garanhão, do “pegador”, já é o ato sexual
pelo seu status, em
especial para os homens, e não pelo prazer do ato, isto leva a um
ato mecânico e sem prazer – e ejaculação não indica que você
chegou ao orgasmo, vide o exemplo da ejaculação precoce.
São inúmeros casos abordados por
Reich ao longo de sua obra e é impossível colocar tudo aqui, até
porque não sou a pessoa mais indicada para isto, pretendo apenas
iniciar uma discussão e jogar algumas palavras ao vento – o que no
caso da internet é colocar uma carta na garrafa e soltá-la no mar.
O que ocorre é que Reich trata a sexualidade como um problema sério
e social. É necessário garantir as pessoas uma boa relação
sexual, ajudá-las a isso, afinal de contas é uma de nossas
angústias. Por vários e vários motivos nossas relações modernas
influenciam nosso ato sexual. E com a liberal década de 1970 já na
história e o sexo antes do casamento consolidado como normal,
podemos acreditar que nossa relação alcançou a perfeição ou está
próxima disso. Não é um sentido de nostalgia que deve ser buscado
aqui (longe disso!), mas sim entender que nossa relação com o sexo
ainda tem seu caráter repressor, mesmo que já não seja a mesma
repressão sofrida por Reich. Na internet são comuns vídeos
roubados da intimidade de alguém e a constante intromissão na vida
sexual das pessoas (desde comentários bestas como “ela provocou”,
“vagabunda”, até os homofóbicos). Há também uma cobrança
para que todos sejam garanhões e “garanhonas”, deveríamos estar
falando de boas relações sexuais, que nos deem satisfação, sem
manuais, sem regras e não de quantidades de sexo. Como vi uma
estudiosa da sexualidade dizendo, atualmente o sexo é de massa, e
deveria ser pessoal, íntimo afinal. Parece que este é o desafio,
relacionar-se sem regras, entender o ato sexual e o amor como
movimentos de libertação, de negação da sociedade que vivemos.
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