quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Os Amigos - Kazumi Yumoto

          A literatura japonesa é para dentro. Talvez a metáfora cabível seja a do chá, já que tais livros pretendem entrar dentro de você da mesma forma que o chá que se bebe. O chá, para quem não sabe, é um elemento importante dentro da cultura nipônica, e segue sendo ao longo dos anos um grande bastião desta cultura. Assim sendo comparar tal literatura com o chá, parece fazer sentido. O chá queima quando desce, dá para sentir que ele está entrando e reagindo com seu corpo. Muitas vezes esquecemos que alimentar-se pode ser uma experiência estética.
          Porém, nutrir-se apenas de si parece levar a uma desnutrição. Neste sentido pensar o que te rodeia, mesmo sabendo que não se dá conta deste todo, revela-se tarefa constante e necessária. O livro consegue dar pequenas pontadas na sociedade (japonesa). Gosto de observar que construímos uma sociedade cada vez mais escolarizada – países como Alemanha e Japão são o grande exemplo – porém percebemos que isto não resolve todos os problemas aos quais a pedagogia se propõe (e é cobrada) à resolver. É curioso observar como o aprendizado e a vivência se fazem muito mais intensos nas aventuras do trio de amigos, do que nos momentos em que estão na escola. A escola acaba aparecendo como lugar de cobrança e chacota. Fora dela o leque de possibilidades dos garotos se amplia, e o olhar atento com as coisas ao redor dão o norte para pequenos questionamentos. Fragmentos para uma sociedade fragmentada. Nos cacos também é possível observar.
          Curioso como ao desejarem conhecer mais sobre a morte, a tríade consegue “exercer” melhor sua vida. Tal curiosidade, de alguma forma os conduz a novas experiências, e sensações podem ser ativadas a partir delas. Talvez assim possamos repensar a função da escola, já que esta fica apenas em pano de fundo, enquanto o aprendizado ocorre por meio de coisas triviais. E diferentemente de uma sala da aula tradicional, não há necessidade de instigar o sujeito, pois fora da sala, ele é constantemente instigado por sua realidade.
          O saldo advindo de uma sociedade extremamente previsível e regrada como parece ser a japonesa se reflete nos pais do trio de amigos. Além de ausentes, eles parecem estar fortemente abalados e buscam sua fuga em pontos possíveis, como o álcool ou depositar seus desejos e esperanças na criança (para que ele não seja dono de uma loja de sushis, por exemplo). Para agravar mais ainda o quadro, é todo este regramento que acaba por separar amigos que se relacionam tão bem, apesar das largas diferenças. É no interesse comum que eles acabam se encontrando. Apesar de tratar de uma sociedade tão diferente e ter a característica comum da literatura japonesa de voltar-se para dentro, podemos pegar algo que nos interesse, e quiça isto seja o que mais importa.

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