Ler é diversão. Por mais óbvio que seja esta afirmação, algumas
vezes precisamos lembrar disso. Poucos desenvolvem seu hábito de
leitura com coisas sérias, começamos com gibis, reportagens e
outras coisas menos rebuscadas e trabalhados como os livros
clássicos. Chartier coloca na introdução da “Ordem dos Livros”,
de que afinal a prática da leitura é vadia e preguiçosa, por isso
se mostra uma afronta nesse mundo apresado e trabalhador que vivemos.
Ler por diversão mais do que por trabalho, diferente de pessoas
ligadas as tais ciências humanas, é algo que acaba pedindo certo
esforço, seja pelo tempo quanto pela vontade. Quando a leitura se dá
pela diversão, o ato de ler é pela leitura, não por uma obrigação,
se lê porque se quer ler.
O exotismo de Efraim Kishon lhe garantiu uma posição de crédito na
minha estante, não sabia quando, mas queria ler aquela obra de
título provocativo, afinal guardas são autoridades, irritá-los e
tirar um sarro da cara deles é algo libertador, o riso, com todas as
suas nuances, liberta coisas presas que precisamos soltar, a exemplo
de rir das figuras de autoridade seja ela qual for. E ele como todo
bom judeu engraçadinho, está liberado para fazer várias piadas
sobre seu povo sem dar margem a preconceitos ou mal entendidos.
É importante deixar claro de antemão que Efraim Kishon não pode
ser categorizado como um expert
em política ou algo do tipo, tão pouco tem um senso social muito
aprofundado, quer mesmo é cutucar todo mundo, provocar o riso sem
cair nas tradicionais piadas repetidas (Loira, português, filho
gay...), isso faz com que ele vá para várias direções, e brinque
com o povo israelense e tire saro dele. Usa a fórmula de falar da
aldeia para ser universal, até porque sempre enxergamos nosso
cotidiano como um universo, por ser assim mesmo, cheio de
desdobramentos possíveis.
Ler seus escritos procurando alguma lição profunda escondida,
talvez seja um grande erro, Kishon quer mesmo é rir da condição
humana, e das situações caricatas que acabam se mostrando ao longo
do nosso dia a dia. Dizer que ele é um gênio pode soar exagero, mas
sua escrita fácil e seu sarcasmo incontido servem muito bem para o
exercício da leitura, afinal ler é divertido, não podemos esquecer
disso.
Adendo:
de acordo com minhas investigações internáuticas, soube que a
produção de Kishon na área de teatro, televisão e cinema era
intensa. Buscando algo sobre ele me deparei com um trecho de um filme
seu chamado Sallah
Shabati,
que conta a vida de um judeu oriental tentando se adaptar a nova vida
em Israel. O filme parece fazer piada da situação israelense após
sua criação, já que até hoje todo judeu tem direito a cidadania
israelense, porém quando quase todos os judeus do mundo vão para o
mesmo lugar ao mesmo tempo, problemas acontecem para os que chegam e
os que já estão. De qualquer forma, o filme não parece ser genial,
mas a cena da música é linda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário