terça-feira, 22 de abril de 2014

Como aborrecer um guarda e outras estórias - Efraim Kishon


Ler é diversão. Por mais óbvio que seja esta afirmação, algumas vezes precisamos lembrar disso. Poucos desenvolvem seu hábito de leitura com coisas sérias, começamos com gibis, reportagens e outras coisas menos rebuscadas e trabalhados como os livros clássicos. Chartier coloca na introdução da “Ordem dos Livros”, de que afinal a prática da leitura é vadia e preguiçosa, por isso se mostra uma afronta nesse mundo apresado e trabalhador que vivemos. Ler por diversão mais do que por trabalho, diferente de pessoas ligadas as tais ciências humanas, é algo que acaba pedindo certo esforço, seja pelo tempo quanto pela vontade. Quando a leitura se dá pela diversão, o ato de ler é pela leitura, não por uma obrigação, se lê porque se quer ler.
O exotismo de Efraim Kishon lhe garantiu uma posição de crédito na minha estante, não sabia quando, mas queria ler aquela obra de título provocativo, afinal guardas são autoridades, irritá-los e tirar um sarro da cara deles é algo libertador, o riso, com todas as suas nuances, liberta coisas presas que precisamos soltar, a exemplo de rir das figuras de autoridade seja ela qual for. E ele como todo bom judeu engraçadinho, está liberado para fazer várias piadas sobre seu povo sem dar margem a preconceitos ou mal entendidos.
É importante deixar claro de antemão que Efraim Kishon não pode ser categorizado como um expert em política ou algo do tipo, tão pouco tem um senso social muito aprofundado, quer mesmo é cutucar todo mundo, provocar o riso sem cair nas tradicionais piadas repetidas (Loira, português, filho gay...), isso faz com que ele vá para várias direções, e brinque com o povo israelense e tire saro dele. Usa a fórmula de falar da aldeia para ser universal, até porque sempre enxergamos nosso cotidiano como um universo, por ser assim mesmo, cheio de desdobramentos possíveis.
Ler seus escritos procurando alguma lição profunda escondida, talvez seja um grande erro, Kishon quer mesmo é rir da condição humana, e das situações caricatas que acabam se mostrando ao longo do nosso dia a dia. Dizer que ele é um gênio pode soar exagero, mas sua escrita fácil e seu sarcasmo incontido servem muito bem para o exercício da leitura, afinal ler é divertido, não podemos esquecer disso.

Adendo: de acordo com minhas investigações internáuticas, soube que a produção de Kishon na área de teatro, televisão e cinema era intensa. Buscando algo sobre ele me deparei com um trecho de um filme seu chamado Sallah Shabati, que conta a vida de um judeu oriental tentando se adaptar a nova vida em Israel. O filme parece fazer piada da situação israelense após sua criação, já que até hoje todo judeu tem direito a cidadania israelense, porém quando quase todos os judeus do mundo vão para o mesmo lugar ao mesmo tempo, problemas acontecem para os que chegam e os que já estão. De qualquer forma, o filme não parece ser genial, mas a cena da música é linda.

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