Elysium não surpreende muito. Os clichês de Hollywood estão ali, a
historinha de amor, o herói que nunca morre, os vilões e os
mocinhos claramente demarcados e o destino da humanidade em jogo.
Sabemos como começa e como termina a narrativa. É um filme
hollywoodiano afinal.
Porém alguns detalhes aparecem ali que acabam tornando Blomkamp uma
novidade. Ele alcançou sucesso suficiente para entrar no clube
americano do cinema depois do lançamento de Distrito 9.
Pra quem não sabe, Blomkamp é sul-africano, e isso implica nas
pequenas diferenças. A primeira delas e que pode até causar alguma
empolgação, é que mais do que uma simples divisão entre bonzinhos
e malvados, a sociedade futura ilustrada no filme é segregada entre
ricos e pobres. Os pobres são condenados a uma vida miserável, sem
grandes perspectivas e o mais importante, ficam de fora do clube
saudável exclusivo para quem pode pagar pela eternidade e beleza.
Independente da posição ou objetivo de Blomkamp, ele não maquia em
nada a segregação financeira existente no mundo. Talvez pelo fato
de ser da África do Sul, seja quase impossível ignorar esta
questão.
As outras questões menores, porém
significativas, tangem a questão da produção. No filme, mesmo que
de maneira tímida, outras línguas são faladas, mesmo o inglês se
mantendo o principal idioma, é aberta uma brecha para outras
línguas. Pode parecer bobo, mas o termo “bárbaro”, tem origem
numa questão linguística, mesmo que tal adjetivo esteja delimitando
uma condição cultural. Uma língua implica numa cultura, numa forma
de pensar, me arrisco até em colocar, uma outra estrutura. Talvez
por isso os comentários comuns de que a atividade filosófica só
possa ocorrer em língua alemã – o que discordo. Colocando estas
outras línguas, o filme deixa de maneira mais clara de que além das
diferenças econômicas, também existem as culturais. Se pensarmos
isto a partir do fato de que é comum nos EUA remakes
de filmes europeus pelo simples fato da maior parte da plateia
estadunidense não gostar de filmes em língua estrangeira, demonstra
de forma clara como um país lida com a cultura de outro povo.
Por esta ótica a grande resistência
dos islâmicos é em aceitar um modelo cultural tão diverso do seu,
e se apegar a religião acaba sendo uma forma de se apagar a uma
identidade, de preferência uma que seja mais prática para a
realidade visível. Se houvesse uma postura mais pluricultural,
talvez tensões desnecessárias seriam evitadas. Não podemos ser
demasiado otimistas, pois cair no relativismo cultural pode ser
perigoso também.
O que temos afinal de contas em
Elysium é um filme hollywoodiano que procura dialogar com outras
linguagens. A contratação de atores de vários países, a aparição
(mesmo que discreta) de outras línguas, a não
negação da ainda existente divisão entre ricos e pobres, fazem com
que exista neste filme uma maquiagem não tão carregada para falar
de nosso tempo. Talvez por isso seja estratégico situar tais
problemas numa ficção científica. No fim das contas Blomkamp
consegue seu sucesso pelo fato de não ignorar os problemas de seu
tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário