terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Valsa com Bashir - Ari Folman (dir.)


Já postei aqui sobre a questão Palestina por meio do trabalho de Joe Sacco. Li também seu trabalho mais recente, Notas de Gaza, que se mostrou tão bom quanto o Palestina: uma nação ocupada. Neste sentido, Valsa para Bashir se mostra como um complemento riquíssimo para estas duas obras que eu já conhecia. O filme é uma bela animação com uma boa trilha sonora, que vai tratar do massacre que ocorrera durante a guerra civil libanesa no campo de refugiados palestinos Sabra e Bashila na região de Beirute (capital do Líbano). O filme tem um toque de sensibilidade único, creio que as paisagens e os diálogos em hebraico fortalecem isto.
O documentário-animação se sustenta nas memórias recentes de um tal diretor de documentários1 que participou da invasão israelense durante a guerra civil libanesa enquanto cumpria o serviço militar obrigatório(que em Israel dura três anos). A idade e o tempo bem nos ensinam que nossas memórias vão ficando nubladas, e buscamos esquecer principalmente aqueles fatores que nos desagradam. Por isso é difícil para o personagem principal restituir as peças do infeliz episódio em Beirute.
Algumas coisas não ficam claras no filme e vale a pena trazer. O elemento que norteia a guerra civil é a eleição de Bashir para presidente do Líbano. Porém o fato é que, na legislação da época ao menos, apenas pessoas da religião católica meronita poderiam ser eleitos presidentes (confesso que desconheço a situação atual libanesa). De quebra a OLP (grupo do Yasser Arafat) estava instalado fazia algum tempo em Beirute, assim como vários campos de refugiados palestinos, fatores mal vistos pelas Falanges Libanesas (facção armada de maioria meronita), que junto com a OLP exercia um para-Estado dentro do Estado libanês.
Geralmente quando se fala de Israel e seus conflitos esquecemos que muitos dos soldados não servem por que querem, até porque o serviço é obrigatório, e mesmo dentro de um tanque sente-se medo já que se pode levar um tiro a qualquer momento. É um filme que consegue ser crítico a situação de guerra na região sem fazer uma risca dividindo entre “bons e ruins”. O próprio esquecimento revela a aversão a tais memórias...
Em boa medida a obra fugiu de lugares comuns, exceto talvez no quesito dos relatos de guerra, que salvo filmes fictícios, são sempre rodeados pelo tédio e desespero. Mas imagino que uma guerra deve ser assim mesmo, aliás, também não desejo ter contato algum com tal experiência.








1Ao que tudo indica é o próprio Ari Folman.

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