domingo, 18 de dezembro de 2011

O Imperialismo Sedutor - Antonio Pedro Tota

    É incrível como o Brasil, de uma forma geral, é americanizado. Mesmo aqui no sul do país onde tanto se fala da imigração europeia, da influência deste processo de imigração e tudo o mais, os EUA são a grande referência. Meu exemplo favorito é observar os filmes em cartaz no cinema. Raramente há algum “forasteiro” entre todos aqueles holliudianos. Nacionais até temos, claro há leis obrigando a isto. Sem falar que há uma tal “boa fase” do cinema nacional. Porém os grandes filmes, os que recebem mais do que uma sala, que têm os horários mais flexíveis vêm da tão comentada Hollywood.
A música que ouvimos na rádio não foge muito do que observamos no cinema, novamente os nacionais ali sob a égide de uma lei. Até mesmo fuçando blogs na internet atrás de músicas, filmes e afins, mesmo sendo algo completamente fora dos circuitos comerciais, boa parte é produzido por estadunidenses e vez por outra algum londrino aparece. Não para por aí. Basta verificar o número de escolas de idioma, até oferecem outras opções, mas salvo as em estreita relação com as embaixadas (Aliança francesa, por exemplo), o carro chefe sempre é o inglês. Não falamos o inglês da Jamaica, Austrália, Nigéria ou África do Sul, mesmo sabendo que estes lugares falam inglês. Falamos o inglês daqueles filmes, daquelas músicas, daqueles seriados, onde a grande referência são os EUA.
    E o ponto mais interessante deste livro é interpretar o processo de americanização não como um hambúrguer enfiado goela abaixo dos pobres brasileiros. Ora, gostamos de assistir as ridículas séries, mesmo sabendo que são bobas e enlatadas, aquela música comercial (ou não) nos agrada, estranhamos o rock russo ou o “próximo” espanhol. Imagine que Fantasia e Alô amigos são produzidos antes de 1950, e rapaz, que qualidade! Num primeiro momento havia certa resistência, pois os estadunidenses eram vistos como rudes, incultos, rednecks. Com o tempo foram mudando sua imagem, apresentando-se como terra de grandes mentes, da industrialização e do progresso. O grande colaborador para isto fora a saída da segunda guerra mundial como a maior economia do mundo.
    Antônio Tota traz uma abordagem nova sobre um velho assunto. Talvez este texto e a leitura levem a uma grande confusão a respeito do processo de americanização no Brasil, e o leitor pode estar se perguntando: “Afinal gajo, tu és contra ou a favor da americanização, ela te parece boa ou ruim?”. E penso fazer um coro a Tota ao colocar que o mais importante no momento, é entender de que podemos até gostar desta forte influência estadunidense (Filmes, música, séries...), ela nos cai bem, é bacana falar inglês e este hambúrguer nem foi tão goela abaixo assim, mas este processo não se deu de forma “natural”.
    A cultura moçambicana é rica como a russa ou polonesa, mas gostamos mais do que vêm dos Estados Unidos. O que quase nunca se traz para a discussão é a mediação dos governos brasileiro e americano nesta aproximação cultural, que servia de fronte a interesses econômicos, o Brasil com seu café e os EUA com seu excedente. Da mesma forma que os estúdios Disney filmaram o Alô amigos, Carmem Miranda encontrou espaço no mercado estadunidense. Mesmo que atualmente a influência dos EUA seja muito mais perceptível no Brasil do que a brasileira nos EUA. Podem até enfiar o hambúrguer goela abaixo, mas antes nos ofereceram ele rodeado de bela propaganda.
    É bacana ler este livro compreender melhor a forma com que se dá esta relação cultural, como pessoas podem tomar este país como modelo e não aquele outro. Não é falar se este processo é positivo ou negativo, mas compreender como ele funciona, para como as regras de um jogo, saber como utilizá-las e o que fazer com elas.  

2 comentários:

  1. Lúcido, linguagem acessível, importantíssimo para se entender um pouco mais a História do Brasil

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