Diferente do que vinha fazendo aqui, não farei aqui uma espécie de sinopse do livro somado a uma explicação ou algo semelhante do livro, até porque o livro escolhido não merece ter seu enredo desvelado tão toscamente, entendo que ele exige uma maneira lenta e densa de se fazer, assim como o desenrolar da história se dá. Além disto, uma análise, minimamente profunda, comprometida e não meramente especulativa demandaria um longo tempo de estudo, tempo este que agora não tenho. Bem, sem mais blábláblá, deixo aqui minha exposição sobre as possibilidades que vertem do livro e as impressões que ele me deixou de maneira en passant, o livro de que falo é “O Processo” de Franz Kafka.
Kafka está entre os autores de que mais gosto, ou mais precisamente um dos escritores que me são mais interessantes.
Franz Kafka (František Kafka) nasceu em Praga, capital da atual República Checa, já na segunda metade do ano de 1883, dentro de uma família judia de classe média. Para os que sabem um pouco da vida do autor sabem que há na relação dele com seu pai um conflito, um tipo de questão “não resolvida” ou não normal, que se refletirá em diversos de – se não em todos – seus textos.
Repetidamente em suas obras vê-se o personagem mergulhado em uma história que mais parece um sonho bizarro – em todos os sentidos do termo –, pondo o personagem em circunstâncias que pareceriam anteriormente inimagináveis – daí a expressão “Kafkiano”.
Não é diferente no caso de “O Processo” onde o personagem principal K – uma provável referência a si, muito constante em seus escritos “principais” (A Metamorfose, O Castelo, etc.), passa por diversas dificuldades no decorrer do livro dificuldade extremamente “impares” e uma incrível presença de um aparelho burocrático que constantemente impede os intentos de K, frustras suas tentativas, causa-lhe cansaço, e muitas vezes “vence” no embate contra indivíduo.
A exemplo disto, uma das demonstrações das situações Kafkianas são os departamentos jurídicos que ficam instalados nos sótãos de algumas casas, bem como escondidos, camuflados em construções que não revelam a quem não adentra seu caráter de instituição.
Penso que o livro pode, talvez até deva ser lido a partir de um dimensão maior que uma simples historinha que remete a indivíduos específicos, mesmo, ao que parece, quando Kafka remete-se a si, ponde-se no livro como personagem, ele parece o fazer dentro de estereótipos, dentro de uma representação menos pessoal do autor e mais ampla de uma sociedade extremamente burocrática, vigilante, arriscaria controladora e por que não disciplinar, mas mais que isso que incide sobre os indivíduos sem que eles se dêem conta de que ela é uma “maquinaria” ou um outro corpo, mas sim tomando-a como necessária à existência e intrínseca aos humanos.
Em sua maneira pesada, arrastada, consideravelmente difícil de ler Franz Kafka produz um livro extenso, O Processo – em sua versão Pocket da L&PM – comporta quase trezentas páginas, somando-se o texto principal e os adendos. Vale ressaltar que o livro encontra-se incompleto e a sequência dos capítulos não foi precisamente posto por Kafka, havendo divergências quanto qual deveria ser a ordem destes, Os manuscritos de “O Processo” foram entregue a Max Brod – amigo pessoal de Kafka – em 1920, porém só viriam a ser publicado póstumos em 1925, um ano após a morte do autor.
Obras de Kafka:
- Cenas de um Casamento no Campo (1907)
- Considerações (1908)
- Aeroplano em Brescia (1909)
- Amerika (1910,1927)
- O Veredicto (1912)
- A Metamorfose (1912, 1915)
- A Sentença (1912, 1916)
- Meditação (1913)
- Contemplação: O Foguista (1913)
- Diante da Lei (1914, 1915)
- A Colônia Penal (1914, 1919)
- O Processo (1914,1925)
- Um Relatório para a Academia (1917)
- A Preocupação de um Pai de Família (1917)
- A Muralha da China (1917, 1931)
- Carta ao Pai (1919)
- Um Médico Rural (1919)
- Poseidon (1920)
- Noites (1920)
- Sobre a Questão das Leis (1920)
- Primeiro Sofrimento (1921)
- Cartas a Milena (1920, 1923)
- Investigações de um Cão (1922)
- Um Artista da Fome (1922, 1924)
- O Castelo (1922, 1926)
- Uma Pequena Mulher (1923)
- A Construção (1923)
- Josefina, a Cantora ou O Povo dos Ratos (1924)
- Sonhos
Filmes relacionados:
- The Trial - Orson Welles (1963)
- The Castle - Rudolph Noelte (1968)
- Informe para una academia - Carles Mira (1975)
- The metamorphosis of Mr. Samsa - Caroline Leaf (1977)
- Informe per a una acadèmia - Quim Masó (1989)
- Kafka - Steven Soderbergh (1991)
- The Metamorphosis of Franz Kafka - Carlos Atanes (1993)
- Amerika - Vladimir Michalek (1994)
- Das Schloss - Michael Haneke (1996)
- La metamorfosis - Josefina Molina (1996)
- The Trial - David Hugh Jones (1996)
- Metamorfosis - Fran Estévez (2004)
Realmente gosto de Kafka, no momento ando folheando carta ao pai. Realmente a figura do pai é uma constante na obra de Kafka. Fico fantasiado com a escrita (apesar de densa, muito boa!) e o desenrolar da história.
ResponderExcluirO pano de fundo burocrático é uma constante, principalmente por ele trabalhar com burocracia. Há em Kafka algo de fantástico (não entendo nada a respeito da literatura fantástica) e de sufocante, e nisto o ambiente burocrático traz muito bem, toda uma presença de invencível. Talvez dai Kieslowski retirou a idéia para realizar seu segundo curta "escritório" (meu polonês anda fraco). Nesse curta temos esta coisa da burocracia.
Como disse um amigo meu, nosso governo não deveria ser chamado de democracia, mas sim de burocracia. E é impressionante como ela domina nosso cotidiano...
E aqui vai o curta de kieslowski que comentei. Gosto muito de Kieslowski.
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=dvgfuWFFSsU
esse cara dói.
ResponderExcluire é incrível!
(bom escrito :)