sábado, 16 de junho de 2018

Imprensa e poder - Moacir Pereira

       Mesmo trazendo pouco mais que uma narrativa corrida sobre a imprensa de Santa Catarina, a obra de Moacir Pereira continua sendo consultada pelo mérito de apresentar um quadro expandido do estado, não se restringindo a um único grupo, meio ou região. Podemos suspeitar que ele não faz recurso a ghost writer, dado seu volume de produção, que honestamente custaria caro sustentar por outros meios que não o próprio punho. O autor também possui formação acadêmica, com graduação em direito e mestrado em ciência política. Certamente, isto lhe traz algum mérito na composição de seu livro, bem indicado no título Imprensa e poder: a comunicação em Santa Catarina, apesar de considerar que não o faz com tanta maestria.
      Este livro traz de forma clara, como a imprensa catarinense esteve atrelada as classes políticas de Santa Catarina, apesar de muitas vezes resumir esta questão as “forças ocultas”, deixando a história inconclusa. Ao longo do texto elogios ao profissionalismo e modernização trazidos pela RBS são apresentados. É somente a partir da década de 1980 que a imprensa catarinense se profissionaliza, perdendo seu vínculo partidário. Na listagem entre as páginas 96 e 101 são apresentadas as filiações partidárias dos meios de comunicação.
      De fato, na crítica é necessário certa cautela e paciência. Pois, mesmo que seja plausível sua afirmação de não poder vincular os grandes meios de comunicação catarinense a algum partido político, é apagado destes meios de comunicação, com destaque para os pertencentes ao grupo RBS, sua questão política, tornando o livro uma longa carta de pedido ou de agradecimento de emprego à RBS (hoje, NSC). Seu prefácio realizado por Nelson Wedekin, então senador, e sua publicação pela Fundação Catarinense de Cultura, bem como sua atuação como jornalista político são deixados em suspenso. Não há uma leitura mais íntima da questão, o que poderia ser feito por alguém tão próximo ao processo, ficando claro o ato de evitar dissabores aos seus amigos mais próximos.
      Colher de chá para o período em que foi escrito, momento que a historiografia brasileira ainda observava de forma menos séria os periódicos, o que justificaria uma bibliografia tão magra. Junto desta, o fato de não ser um livro de História – minha área de interesse e atuação. O livro nos serve para pensar duas questões: 1) como a classe historiadora ainda depende de livros como este, tempos atrás chamados pejorativamente de memorialistas, dado seu foco factual e linear no olhar sobre o passado, colocando sobretudo a limitação do ainda existente encantamento idealizado com a escola dos Annales; e 2) o interessante que seria uma produção bibliográfica no campo da história, sobre a figura de Moacir Pereira, sujeito este, intimamente relacionado com a imprensa e a política partidária, dado sua proximidade e circulação entre o meio.

PEREIRA, Moacir. Imprensa e poder: a comunicação em Santa Catarina. Florianópolis: Lunardelli FCC Edições, 1992. 


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