sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

As Revoluções Africanas - Paulo Fagundes Visentini


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Dizem que a expressão terceiro mundo não tem mais cabimento. Em larga medida faz sentido esta observação, já que terceiro mundo está muito ligado a uma série de observações descabíveis para muitas coisas. Porém vejo ai um agrupamento identitário, terceiro mundo acaba aglutinando boa parte deste mundo “esquecido”, que parece ficar nas margens do Império Romano. É comum encontrar pessoas que saibam as capitais de inúmeros países europeus, entretanto encontrar alguém que entenda África como um continente e não como um país, é algo raro. Não bastasse, constantemente são feitas comparações entre o lugar em que vivemos e alguma experiência europeia. Eu por exemplo, faço isto repetidamente ao discutir mobilidade urbana e o uso de bicicletas. Confesso que nem sempre é proposital, mas quando o é sei que efeito estou produzindo ao citar o uso de bicicletas na Alemanha. Poderia citar Cuba, que segundo soube por boatos, está investindo nos últimos anos nesta mesma questão, mas sei que citar Alemanha acaba soando bem mais eficiente e abrangente.
Uma das coisas que podemos observar dai é a falta de crédito dado a capacidade destes países periféricos, que estão a margem em alguma medida. Parece que nem sempre se busca uma autonomia, um caminho próprio e mais adaptado a nossas necessidades. Um exemplo prático foi quando uma amiga minha conversava com uma intercambista alemã, ambas estudantes de Arquitetura e Urbanismo. A garota alemã perguntava duvidosa e quase revoltada porque aqui nós evitávamos construir na beira do rio, já que ele é bonito e aproveitaria melhor o espaço, além do que é assim que eles fazem na Alemanha. Porém, cabe lembrar, que na Alemanha eles não tem chuvas como temos aqui, não tem a natureza que temos aqui, nem o solo deve ser semelhante (aqui no Vale do Itajaí a terra é bem vermelha). O elemento claro é que não estamos acostumados, e muito menos somos educados para lidar com estas particularidades e necessidades de cada caso e lugar.
Em larga escala este desejo estará presente nas três empreitadas trabalhadas ao longo deste livro. Poderiam tentar outros caminhos, mas, de alguma forma, escolheram tentar o socialismo. Muitas vezes esta tendência acabava ocorrendo por um motivo muitas vezes ignorado ao citar tais casos. Por exemplo, Hailé Selassié tinha seu regime apoiado pelos EUA. Movimentos sempre precisam de apoio externo, e no caso etíope não viria da casa branca, como a bipolaridade do período acabava te obrigando a escolher um lado, alinhar-se a URSS aparece como a opção mais sensata. Até porque já havia uma simpatia pelo socialismo. É ignorado que esta escolha pelo socialismo representa uma possibilidade de autonomia, dificilmente anunciada no capitalismo americano apoiador do Imperador (da mesma forma os EUA proporcionavam uma certa autonomia para Hailé Selassié, cabe observar).
Se entrarmos na discussão de quão socialista ou não foram estes episódios, creio que será uma longa conversa que não quero fazer agora. Caio no pecado do cientista e busco focos possíveis ao longo desta discussão. Vale a pena olhar como esta busca por autonomia é algo penoso aos países alocados de alguma forma dentro do jargão 3º mundo. Mas ao mesmo tempo podemos perceber ai uma capacidade inovadora incrível, que indica ser dificílima no engessado 1º mundo. E para isto acredito que saber de seu lugar facilita o movimentar-se.

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