segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Crítica da Razão Tupiniquim - Roberto Gomes


Bem, uma vez que fui convidado a participar deste blog faço aqui minha primeira postagem, não sei bem se conseguirei suprir a proposta do blog, ou se minhas palavras serão interessantes para os leitores disto (alguém o lê?), mas aqui vou eu, sem grandes pretensões, sem o intento de agradar alguém além dos corações sinceramente interessados.
O livro escolhido para minha primeira contribuição está longe de ser um Best-seller, ou qualquer coisa do gênero, creio que está muito mais próximo até de ser uma obra pouco lida, lida de menos a meu ver, principalmente no mundo acadêmico que, inclusive, é alvo do livro.
O nome, Crítica da Razão Tupiniquim, é uma clara alusão ao escrito Crítica da Razão Pura de Kant. Paradoxo, ou não, este livro me parece estar longe ser comparado, em vários aspectos, ao do filósofo alemão, entres estes, o fato de ser uma leitura suave, sem abusar de expressões complexas ou rebuscadas, o mesmo de ser um trabalho filosófico de mesmo âmbito que Kant.
Com parágrafos e capítulos curtos, ao longo de suas cento e sete páginas (oitava edição da editora criar), o livro do escritor blumenauense Roberto Gomes, nascido em 1964, traz uma crítica à intelectualidade brasileira, ataca o mito da impossibilidade de uma filosofia brasileira, seja este fruto da ideia de uma língua inadequada ou por não possuir uma herança filosófica; tentando mostrar como no fundo isto não passa de uma produção não só do exterior, mas, também, e talvez principalmente, interior. Ele mostra como os brasileiros prendem-se aos padrões europeus, dando maior valor aos saberes de lá, tendo as produções intelectuais daqui valor aqui somente quando aprovadas pelos intelectuais da Europa.
Cria-se uma dependência que vai desde a maneira de vestir-se, pensando aqui no Brasil como um país tropical e que “rejeita a pompa”, Gomes pergunta, “a filosofia, de terno e gravata, pensa?”; aos saberes que são tomados como válidos. É Esta dependência, sim, que promove a impossibilidade da “razão tupiniquim” e não qualquer relação de natureza lingüística, territorial ou mesmo cultural como se costuma objetar.
O autor faz uma distinção entre “sério” e “a sério”, resumindo, você pode ser um pessoa séria, o que diz que estaria mais ou menos em oposição ao alegre ou risonho, de maneira distinta você poder fazer humor a sério, assim, ele pergunta se realmente um filosofo – brasileiro – precisa ser sério ou se apenas necessita levar as questões, seu trabalho, o pensar a sério.
Outro ponto interessante abordado no livro é o que Roberto Gomes chama de “Mito da Concórdia” e “Mito da Imparcialidade”, o primeiro diz respeito ao habito de evitar-se o conflito e o extremismo (entre os pensadores e as correntes de pensamento), desta maneira, tenta-se sempre amenizar as coisas para que tudo fique bem, não se produz ou se usa do conflito para engendrar novas perguntas, ao contrário, tenta-se abafá-las com o jeitinho; o segundo, em complemento ou primeiro, diz respeito à comum prática da imparcialidade que também apazigua os ânimos, faz com que as lutas, tão importantes ao trabalho do pensar, sejam anuladas ou reduzidas a meros conflitos pessoais, impedindo um real embate de saberes, tudo isto se soma como impeditivo ao(s) pensar(es) brasileiro(s).
Por fim, tendo também escrito romances, contos, crônicas, literatura infantil, não fez pouco em seu primeiro livro, ainda demonstrando o quão necessário é a criação de filosofia(s) brasileira(s). Filosofias, teorias, pensares que partam não apenas de brasileiros, no entanto, e aí o principal de sua reivindicação, voltado à realidade brasileira, visando entender e responder às questões que não dizem respeito a revolução francesa e sim, a relação ética-moral do habitantes do Brasil e de suas regiões, de questões que estão ligadas ao “jeitinho brasileiro”, ao dia-a-dia do “povo que é feliz mesmo na miséria”, pede ele por pensadores que se debrucem para isso que os forma, para isso que os permeia.

Deixo-lhes outras obras do autor:

Romances:

Alegres memórias de um cadáver.
Antes que o teto desabe (1981)
Terceiro Tempo de Jogo (1985)
Os Dias do Demônio
Todas as casas (2004)

Livros de contos:

Sabrina de Trotoar e de Tacape (1981)
Exercício de Solidão (1998)

Livros dirigidos ao público infanto-juvenil:

Carolina do nariz vermelho (1986)
Aristeu e sua aldeia (1987)
A difícil arte de ser urubu (2001)

Coletâneas de crônicas:

O Demolidor de Miragens (1983)
Alma de bicho (2000)

3 comentários:

  1. Acho que este blog é para mim mesmo, mas gosto disso, me lembra dos livros que eu li.

    Eu quero dar uma lida nesse livro, mas sempre me esqueço dele. Estou lendo agora "o roubo da história", e ele me ajuda a pensar o quanto somos dependentes da cultura européia. O quanto se nega e exclui aquilo que está fora do padrão europeu. E o quanto se acredita na europa como detentora do caminho a ser seguido...

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  2. A expressão “colonialismo cultural” sempre me deu arrepios, mas foi só após ler este livro que realmente entendi o que isso significava e fiquei realmente assustada com o que li e comecei a me perguntar porque tudo que é estrangeiro tem um valor enorme e desprezamos tanto a produção nacional, é triste isso.

    Pensei nisso em termos acadêmicos, naquilo que estudamos, principalmente no meu curso, direito, o que se estuda é estrangeiro, ou explicações de brasileiros de obras estrangeiras, com infinitas citações (o autor mesmo critica isso) e daí o porquê de muitas políticas publicas, leis, etc, não terem o menos efeito ou sentido (...)

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  3. Ola!Tenho que apresentar meu entendimento sobre o capitulo 10 deste livro na faculdade,seu texto serviu pra se ter uma noção básica.

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