sábado, 17 de julho de 2010

Ecce Homo – Friedrich Nietzsche

“Sou um discípulo do filósofo Dioniso, prefiro ser um sátiro a ser um santo”

Por muitos, considerada com uma obra fruto da insanidade de Nietzsche, o escrito “Ecce Homo: de como a gente se torna o que a gente é” (Ecce Homo, Wie man wird, was man ist) “Ecce Homo: de como se torna o que se é” é o que se poderia chamar uma autobiografia.

“Escutai-me! Pois, sou este, assim. Sobretudo, não me confundam com outro!”

Sem meramente findar-se em um elogiou de si, Nietzsche escreve-a, senão, como forma de continuidade/aperfeiçoamento de seus pensamentos. Suas linhas estão temporalmente no limiar da loucura de Nietzsche, sendo escrito pouco antes de o autor ser afetado pelos efeitos finais da sífilis (outubro-novembro 1888). Este é um livro, como não raro se vê nos opúsculos do autor, que a ser interpretado em sua pluralidade e os sentidos das palavras não se findam em seu stricto sensu, nem mesmo referem-se unicamente a Nietzsche.

“Não sou, por exemplo, um espantalho, um monstro moral – sou antes uma natureza contrária à espécie de homens que, até agora, se veneraram como virtuosos.”

Com um ar egocêntrico , ao mesmo tempo em que ele passa por uma análise de si e de suas obras, abre possibilidades de ser ao leitor. Sua maneira heterodoxa de escrever filosofia parece dificultar adentrar as entranhas de seus escritos, todavia jaz, aí, um excelente exercício de experimentação. Não obstante, ao desenvolver o texto passando por obras suas, Nietzsche, num duplo movimento, auxilia a compreendê-las ao mesmo tempo em que exige a leituras destas para compreensão deste texto. Assim – fica a dica! – quem sabe, Ecce Homo não seja um bom ponto de parti para adentrar as filosofias nietzschianas. Por tê-lo lido em meados de 2008, parte da leitura parece-me ter evaporado, porém, o livro é-me uma ótima sugestão para ampliar o entendimento deste autor.

“Compreenderam-me? Dioniso contra o crucificado...” a vós – Eis o homem!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Notas do Subsolo - Fiodor Dostoievski

Este livro de Fiodor é escrito numa forma de confissão. Como se fosse um diário contando eventos passados. A obra é famosa por apresentar um pouco do pensamento de Dostoievski, o que lhe dá um status de importância único. O sujeito é claramente alguém baseado no autor. Funcionário público pouco ambicioso, um sujeito pobre e doente (e um tanto quanto hipocondríaco).

O personagem refere-se algumas vezes a sua educação, de forma positiva, porém pode ser encontrado um tom sarcástico nisto tudo. Este livro me convenceu de que Dostoievski entra do grupo de críticos a modernidade, o que de certa forma, percebo também no pouco de Tolstoi que já li. Porém, deve-se lembrar que são autores diferentes.

Esta crítica a modernidade me leva a crer na importância que havia naquele tempo ser comunista ou anarquista. Porém, o assunto agora não seria este, ainda mais que o livro não trata deste assunto (ao menos não diretamente).

Dostoievski bate de frente com a razão, algo que é tão sagrado para a nossa sociedade atual quanto o trabalho e a democracia, são três valores intocáveis e inquestionáveis. Lembrando que o escrito foi elaborado durante o século XIX, que é um século conhecido pelos fortes avanços tecnológicos e as grandes mudanças políticas e governamentais.

Um livro interessante para ser lido, que de certa forma, pode colaborar para o entendimento do que seria a modernidade e também um pouco do espírito de uma época. Uma obra que como dito no começo, revela boa parte do pensamento de Dostoievski.

Também foi traduzido sob outro título como "memórias do subsolo".


quarta-feira, 23 de junho de 2010

Chamado Selvagem - Jack London

Mais um livro de London. Primeiro livro seu que li, peguei por causa do nome do autor, que acho muito legal até hoje (faz tempo que o li!).

Sua escrita é muito boa. Mesmo quando a história não é muito interessante, sua escrita a torna uma boa história. Sobretudo a reputação de London é um tanto quanto “manchada” devido a ter escrito alguns livros onde o personagem é um cachorro (vide “caninos brancos”, que muitos devem conhecer pelo filme da Disney). E bem, este é um dos livros onde a história é de um cachorro.

Comecei o livro sem saber que ele era um cão, mas logo na segunda frase percebi. Mesmo assim insisti na leitura. Ao concluir a obra conclui que era um livro digno de ser lembrado.

O livro seria em base um retrato da sociedade, utilizando o cachorro como metáfora para o ser humano, o que de certa forma, ao se ler a história faz sentido, e mesmo muitas vezes no nosso dia. O capitulo que vez ou outra me deixa martelando a cabeça é o a respeito da lei do porrete e da dentada, parte do capítulo onde Buck (o cão) é “adestrado”. Ao martelar minhas conclusões a respeito da leitura de “vigiar e punir”, matutei sobre o quanto nós somos educados a base do porrete e da dentada. Assim como Buck, quando saímos da linha há alguém hierarquicamente mais elevado pronto para nos corrigir – o que no caso canino em questão seria um homem com um porrete em sua mão pronto para desferir golpes – ou um semelhante nosso tentando sobreviver da mesma forma que nós – no caso do livro um outro cão que poderia lhe morder caso a precaução correta não fosse tomada. Assim como, por exemplo, na escola temos o professor nos avaliando para verificar o quanto estamos seguindo as normas e nos dando nota por isso, até o colega que nos entrega para o professor quando cometemos alguma irregularidade, também podemos transferir para a relação patrão e empregado, e tantos outros exemplos.

O que Buck acaba tendo que fazer é se curvar as regras do jogo para conseguir sobreviver. Ele é um cão pacífico que ao longo do livro vai tornando-se cada vez mais violento, aqui London (que era comunista) já trabalha com a idéia da sociedade como formadora do indivíduo.

Um livro que pode valer a pena ser lido, e acima de tudo uma bela metáfora!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Literatura em Perigo - Tzvetan Todorov


Já conhecia o autor de "A conquista da América", livro seu onde fala sobre a colonização pelos europeus na América. Havia gostado de sua escrita. Quando soube deste seu livro, onde ele falava sobre o ato de ler, e havia acabado de terminar minha leitura de "A ordem dos livros" de Roger Chartier, não pensei duas vezes, peguei este livro fino de 96 páginas.

No começo do livro Todorov fala de sua infância na Bulgária, e seu contato com livros. Seus pais eram bibliotecários, e como ele mesmo conta, vivia cercado de livros, e estes eram seus grandes amigos.

Todorov critica principalmente a questão da literatura na educação, onde muitas vezes fala-se sobre a escola literária (ou movimento), estudam os autores, mas não se lê sua obra, original e integral, e quando se lê, o que é lido são resumos ou críticas da obra. Algo que só fui perceber lendo este livro, mesmo passando exatamente por isso na escola.

O livro tem uma escrita fácil de ser lida, Todorov domina bem a escrita. O tema do livro é interessante (livros e leitura!), e é uma figura de peso no mundo intelectual. Todorov evoca o amor pela literatura, algo que esquecemos como fundamental para o ato da leitura.

Apropriei muita coisa deste livro para mim, assim como todo bom livro deve me servir (mesclando as reflexões que obtive da leitura do já citado livro de Chartier "A ordem dos livros", o de Ray Bradbury "Fahrenheit 451" e o livro de Todorov sobre o qual escrevo agora), deixei de ser tão exigente quanto a obrigar as outras pessoas a ler, pois não é só a leitura que nos faz aprender, lembrando que Sócrates era analfabeto. Mas ainda assim não perco o fetiche pelo livro e não nego sua importância para o aprendizado. Lembrando que ele também dá importância aos livros de ficção, um tanto quanto desprezados na universidade.

Livro muito bom, falando de um assunto teórico numa escrita fácil e de rápida leitura.

E de brinde uma entrevista de Todorov a respeito de seu livro:
http://bravonline.abril.com.br/conteudo/literatura/tzvetan-todorov-literatura-nao-teoria-paixao-531493.shtml

Até a próxima!