quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Para a questão da habitação - Friedrich Engels

Este livro é uma coletânea das respostas escritas por Engels num jornal alemão para um certo sujeito. Pelo que eu sei estes debates de cartas publicadas em jornais eram comuns, só para ilustrar, foi uma pergunta lançada numa revista que Kant publicou seu texto Was ist Aufklärung? Apesar dos dois textos terem sido publicados de forma diferente me parece que como havia declarado Foucault uma vez, nesta época os jornais perguntavam sem imaginar uma resposta ou sem direcionar para uma, ele põem que não sabe precisar qual é o melhor método, mas considera este primeiro mais interessante.

Uma das coisas mais interessantes de se estudar o século XIX em si é observar a série de problemas que a Europa de uma forma geral enfrentava neste período, que atualmente nos parecem inimagináveis para este continente tão idealizado. Dentre um destes podemos observar o problema da habitação para os trabalhadores. Engels vai colocar algumas questões que me parecem ainda estarem ai – dai o porque do marxismo ainda fazer algum sentido. A principal questão é a de que o salário dos trabalhadores não lhes condiciona pagar por uma moradia de qualidade, gerando assim um problema sério de habitação que de forma geral terá seu reflexo nos cortiços, muito populares durante o século XIX.

O ponto que se apresenta como o mais interessante na teoria de Engels-Marx é o fato de não terem como meta a filantropia, que ao que me parece é constantemente apontada e sugerida pelo tal sujeito (seus textos não são publicados no livro, infelizmente). Engels irá apostar em soluções mais efetivas, que não se baseiam na ideia de remediar, mas sim ir direto a causa da má qualidade da habitação; a exploração do proletariado pelos patrões, seja pelo baixo salário quanto pelo alto aluguel, que são condicionados pela forma capitalista de distribuição da riqueza.

Creio que a leitura deste livro se mostra bem válida para se pensar a habitação hoje e em especial a do século XIX. Apesar dos conceitos repetitivos do marxismo (como classes dominantes e luta de classes), os elementos propostos por esta dupla de teóricos se mostra como fundamental na história do pensamento humano - inegavelmente. Mesmo percebendo aquilo que algumas pessoas chamam de deturpação da teoria original destes alemães, seus resquícios são inegáveis no campo teórico. E no caso deste livro, vale a pena para pensarmos a questão da habitação hoje em dia, com as invasões, moradores de rua, construções abandonadas devido a especulação imobiliária, e por ai vai.


Já que o assunto é habitação, encontrei este link num fotolog1 que é um trabalho fotográfico sobre as construções abandonadas que existem na região de Detroit EUA:

http://blogs.denverpost.com/captured/2011/02/07/captured-the-ruins-of-detroit/

1E aqui a postagem feita do Fotolog: http://www.fotolog.com.br/bluelines/56826724

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A caminho de Los Angeles - John Fante

John Fante – ao lado de Jack London – me parece ser um dos primeiros autores estadounidenses a mostrar com tamanha maestria um Estados Unidos para além do sonho americano ou do sefl made man. Pelo contrário, vai mostrar um lado duro, pobre, difícil e sem beleza, ou como melhor diria Karl Heinrich Bukowski; esta vida que é feito um soco no estômago.

Este livro é o primeiro romance de Fante. Aqui já vai aparecer o personagem Arturo Bandini, que estará em formação, tanto pelo que ele está passando (aquela coisa chamada adolescência) quanto pelos contornos dados por Fante. Bandini vai se caracterizar como um sujeito que busca construir seus próprios conceitos, feito um Raskolnikov nos EUA durante os anos de 1930 ou começo de 1940. O interessante aqui neste livro é que o personagem se vê como um grande gênio ainda não descoberto, algo semelhante ao que vamos encontrar no “1933 foi um ano ruim”. Só que aqui em vez de ser um personagem esforçado e com uma incerteza dramática, ele se mostrará em algumas vezes cômico, porém muito esperto.

Não conheço muito bem a literatura estadounidense dos anos 1930, mas pelo que imagino das leituras que tive de Fante, este autor se coloca apresentando questões extremamente complicadas (por serem tabu) durante a época, especialmente nos EUA, país que não consigo deixar de ver como extremamente conservador. Por isso Fante se mostra tão original, pois revela um outro lado dos EUA que não é a corrida do ouro ou os imigrantes que trabalhando muito conseguem “vencer na vida”, que de alguma forma está inscrito em Godfather, onde temos a célebre frase, são só negócios.

Outro ponto que me parece mais forte neste livro do que nos outros que li (Sonhos de Bunkerhill e 1933 foi um ano ruim) é o mundo do trabalho. Elemento que depois será fortíssimo em Bukowski – vide o romance Factótum. Para quem leu o livro e talvez não saiba, ele vai mostrar qual já era o destino dos imigrantes nos EUA de então, fazer um serviço desagradável que ninguém quer fazer, limpar peixe por exemplo, como é bem ilustrado pelo menino no começo de Cidade de Deus. É bom lembrar que até pouco depois do fim da segunda guerra mundial, as Filipinas eram uma colônia dos EUA e Porto Rico ainda o é. Aqui vamos ter um novo contexto sobre a imigração que diferentemente do primeiro momento que se consistia em matar todos os índios e construir uma nova Europa, vai demonstrar uma busca mão de obra barata.

Num ponto creio que muita gente já se identificou frente ao Arturo Bandini descrito no livro, ele sente que está perdendo muito tempo naquela fábrica e aturando sua família por nada, que aquele seu tio não tem capacidade para entendê-lo pois não passa de um bronco, tudo que ele quer saber é de trabalho, como se isto fosse um remédio para curar todos os males do Homem. E ai fica demonstrada a força de Bandini em negar isto e buscar outro caminho.