sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Os três estigmas de Palmer Eldritch - Philip K. Dick


Livro de ficção científica de Philip Dick, é um livro genial, foi baseado num livro de Philip Dick (não “Os três estigmas...”) que retiraram a história de Blade Runner.
Dick nos apresenta um mundo futuro (não tão distante) interessantíssimo. O primeiro ponto a me chamar a atenção foi a presença dos ares-condicionados, devido a super temperatura da terra; contanto que não se podia sair na rua sem sua “mochila refrigeradora”. Bem, associei diretamente ao calor dos últimos tempos (que antes de ocorrer aqui, passou pela agora congelada Europa) e a presença do ar-condicionado onde quer que você vá – estou com um ligado agora, por sinal. O personagem principal carrega consigo uma “maleta-psicólogo”, pois as pessoas são sorteadas para ir as colônias no sistema solar, a ONU é o órgão responsável. Assim o personagem principal tenta ficar psicótico para não passar no exame psicológico. Interessante que durante a guerra do Vietnã acontecia algo semelhante, as pessoas também eram “sorteadas”.
Todo o sistema solar utiliza a mesma moeda, chamada de peles no livro. A vida numa colônia se baseia em utilizar um droga alucinógena contrabandeada por um mega empresário, que é por sinal o chefe do personagem principal. Me chamou atenção o constante uso dessa droga, me lembra o uso de anti-depressivos, antes de todas as outras conhecidas drogas ilegais (ao descrever os efeitos, é uma alusão direta ao LSD, que Dick tomava).
O herói da história é um exemplo de homem se seguiu sua carreira, preferiu o divórcio – que o atormenta – a prejudicar sua carreira numa empresa interplanetária.
A ONU é um órgão poderoso e corrupto, opressor também, pois envia pessoas para planetas desolados, quer elas queiram ou não, sem haver a possibilidade de voltar para a Terra depois.
É uma daquelas ficções que fazem inúmeras parábolas referentes ao mundo atual, lembrando que o livro foi impresso a primeira vez em 1964!


11/02/2010 - 11:44H

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley

Um dos três livros do que eu particularmente considero a trilogia “perfeita” – juntamente com 1984 e Fahrenheit 451 –, não que seja realmente perfeita, mas eles se completam de uma maneira fantástica, as obras têm muito a dizer e abrangem uma vasta gama de detalhes de nossa sociedade, fazem paralelos e extrapolações que provocam uma reflexão quase que inexorável ao leitor.

Ao ler o livro a primeira impressão que tive é de que o autor trazia algo de muito cristão, um caráter muito religioso. Mas repensando a leitura me apercebi de um erro em mim, penso que por gostar muito de 1984 tentei usar do mesmo esquema interpretativo que usei no livro de Orwell no livro de Huxley. Esse foi o erro. Enquanto em 1984 pode-se perceber rapidamente a quem é a principal crítica, em Admirável Mundo Novo isto não é claro tão rapidamente. Ao menos não me foi. Ele faz criticas tanto ao mundo civilizado quanto ao mundo dos selvagens, pode-se ver de ambos os lados o fanatismo e o condicionamento às crenças que embasam cada modo de vida.

O nome Admirável Mundo Novo parece ser extraído de um texto de Shakespeare chamado Tempestade, mais especificamente no volume um. Como não tenho quase nenhuma leitura de Shakespeare não saberia falar o porquê de tal escolha, mas suponho que ela está cheia de sarcasmo.

O mundo que Aldous Huxley ilustra é uma futurista sociedade onde o controle biológico, cultural e psicológico fora submetido ao controle de uma lógica cientificista. Onde o indivíduo fora totalmente assolado, excluído. Toda e qualquer consciência deste âmbito não é socialmente repugnante, e em últimos casos submetido à pena jurídica de exclusão, que se põe como superior diante das sociedades dos selvagens que se resumem a algumas reservas em todo o globo. Nesta sociedade civilizada todo o processo de vida é controlado, medido, sistematizado e racionalizado, não mais há reprodução entre estes humanos, o sexo se tornou simplesmente por prazer, para satisfação pessoal sem vínculos afetivos, toda a vida – e a morte – se tornou um processo, uma produção extremamente mecânica, crianças são produzidas em laboratório e ficam em instituições de “ultra-sequestro” até a maturidade, assim cada passo do crescimento – desde a forma de embrião ao início da vida adulta – é fiscalizado de tal forma que cada pessoa possa ser incrivelmente previsível. Quase todas as doenças foram erradicadas e as que não foram parecem tranquilamente ser curadas, a “velhice” é prevenida com a manutenção biológica dos fluídos, minerais e nutrientes para que fisicamente tenha-se um corpo jovem; até a morte tem funcionalidade, além de servir para ensinar os pequenos de que não há nada de mais nela e que tudo pode manter-se na ordem em que está os corpos ainda são queimados e re-aproveitados como fonte de energia.
Cada humano dentro desta sociedade é condicionado para uma das cinco classes básicas (Alfa, Beta, Gama, Delta, Épsilon) desde embrião e assim seu futuro é determinado até sua morte. Conseguindo-se com isto ter uma estabilidade e uma identidade social, cria-se um espaço dentro da sociedade para cada pessoal, mas de uma maneira que ela não se veja mais do que como uma peça dentro de uma grande máquina, que não tem função se não ligada a esta e cada ser humano ali se diz feliz, tudo é feito para que ele não se frustre, é feito para que cada emoção seja perfeita e não-traumática, para que ele esteja interiormente em “paz”, ou seja, a Grande máquina – a sociedade, o sistema como tal – lubrifica cada peça – cada humano – para que ela funcione perfeitamente bem e as peças em harmonia mantêm-se em perfeito funcionamento para que se perpetue o sistema, a maquinaria.
Este “sistema perfeito” usa-se dos benefícios da religião e da ciência de forma não possuir os prejuízos deste, para tanto á uma censura para a manutenção do statu quo, assim, controla-se tudo, os ritos, as leituras, as artes, os pensamentos, o ensino, a ciência e tudo o que potencialmente seria nocivo a sociedade, assim, não há mais livros antigos, não há mais estudos que façam-lhes avançar e mudar podendo não ser estáveis, não se ouve músicas antigas, os filmes são fabricados de maneira serem apenas sensações diretas que deixa sempre os espectadores sentido-se, ao fim, bem.

Admirável Mundo Novo também, assim como 1984, possui três axiomas como base para esta sociedade “perfeita”, esses axiomas se entrecruzam e mesclam-se para formarem a unidade, assim como os indivíduos mesclam-se (ao menos assim sentem) à sociedade, são eles três:

1. Comunidade: Todos os indivíduos têm de se sentir parte de um todo, seja em nível de classe (α, β, γ, δ, ε) ou de sociedade em distinção aos “selvagens”. Qualquer um que se desvirtue desta premissa, tentando separar-se do todo, sofre inicialmente uma discriminação social, quase que uma exclusão, e, persistindo tal atitude, pode sofrer uma punição “legal” de ser excluído da sociedade numa ilha. Nenhuma peça funciona fora da maquinaria e nem a maquinaria funciona sem todas as peças.

2. Identidade: Essa premissa parece a menos contundente de todas, talvez, mas traz consigo uma carga muito forte. Exigindo-se uma identidade, faz com que alguém seja alguém, assim com a “Carteira de Identidade” faz com que você – perante o estado e para outros fins legais – seja você, isto faz nessa sociedade com que cada pessoa seja sempre ela, sem possibilidades de mudança. Além disto, a Identidade funde-se à comunidade quanto à necessidade de enquadramento, a identidade faz com que se seja parte do todo, enquadrando-se até a morte em um estereótipo, sem nenhum desvio de comportamento. Nenhuma peça pode querer ser outra peça, nenhuma peça pode ser outra coisa que o que a maquinaria precisa.

3. Estabilidade: É essa máxima, talvez, a mais racional de todas. A Estabilidade, como ali é alcançada, é fruto de tremendo esquadrinhamento e computação de informações e dos entes. É graças à estabilidade que se pode manter o tal modelo social, uma vez que ele exige que as diferenças sejam mantidas em padrões pré-definidos, ele exige que não se permita alterações na ordem estabelecida, mas muito frágil. É fundamental para proteger-se da tragicidade este controle de tudo, caso contrário ou crescer-se-ia de mais ou ter-se-ia um conflito interno de interesses. A estabilidade também impede que um indivíduo queira mudar-se, queira ser outro, o que impediria a sociedade de funcionar plenamente. Nenhuma peça pode se mover-se mais ou menos que se precisa, não se pode ter uma peça de mais ou de menos, assim é que a maquinaria precisa ser.

Dividi os três na ordem em que o livro os traz, mas pode-se observar que eles estão interligados, sem haver uma mais importante ou uma ordem ou hierarquia.
O mundo Selvagem descrito por Huxley é um mundo que não nos é tão distante, ele mistura as característica de tribos que boa parte de nós conhece, ao menos de uma maneira superficial, com características da nossa sociedade atual. O que aparente é que se tem dois estágios distintos de uma evolução os povos primitivos, chamados selvagens e os civilizados, modernos, a sociedade no mundo novo, mas que perdeu-se o elo entre elas. Esse elo perdido muito me parece a nossa sociedade de hoje, ou mesmo a sociedade de 1932 – ano em que o livro teve sua primeira publicação.
Estes povos não-civilizados (pode-se muito bem discordar desta denominação: http://docedepandora.blogspot.com/2010/01/civilizacao-e-civilizados.html) possuem hábitos que são de povos autóctones das Américas como os rituais entorno da fogueira, a linguagem e culto a animais protetores e características de povos indo-europeus como o autoflagelação e Deuses (eles adoram, a exemplo, Jesus).
Esses povos, no mundo descrito do livro, ficam muito bem separados dos uns dos outros e raramente tem contato, com exceções no caso de autorizações especiais, umas mais comuns como no caso onde os “civilizados” vão fazer turismo em meio aos selvagens e outras mais incomuns quando se permite a um selvagem a visitação ao mundo novo – o que acontece somente uma vez no livro.
Quando este contato entre selvagens e civilizados ocorre é sempre algo muito difícil, quando os civilizados adentram as sociedades dos selvagens eles tendem a necessitar de doses constantes de soma (uma droga perfeita causando alta satisfação, desligamento intenso e esquecimento dos problemas sem nenhum prejuízo físico – assim é sua propaganda). Quando o contato ocorre de um selvagem num meio civilizado há outro problema, uma não adaptação e como antes dito a frágil estabilidade do mundo novo entra em crise e esse precisa logo ver-se livre desta célula problemática, desta peça que não se encaixa.

O fim... O fim fica para quem ler, mas o fim – diferente do filme – fora um dos melhores que já li, um final encantador.

Sobre o autor:

Nascido em Godalming, 26 de Julho de 1894 Aldous Leonard Huxley foi um escritor inglês(Los Angeles, 22 de Novembro de 1963). Vindo de uma família que incluía os mais distintos membros da classe dominante inglesa; uma vasta elite intelectual. Seu avô era Thomas Henry Huxley, um grande biólogo defensor da teoria evolucionista de Charles Darwin, tendo desenvolvido o conceito agnóstico, a exemplo.
Estudou na aristocrática escola de Eton, que foi obrigado a abandonar aos dezesseis anos, devido a uma doença nos olhos que quase o cegou impedindo-o de cursar medicina. Mais tarde se formou pela Universidade de Oxford e não serviu o exército britânico durante a Primeira Guerra Mundial.
Em Oxford, engajou-se com a literatura pela primeira vez, conhecendo Lytton Strachey e Bertrand Russell, também se tornou um amigo íntimo de D. H. Lawrence.
Mas só fora escrever Admirável Mundo Novo em 1931, gastando quatro meses em sua produção. Huxley produziu um total de 47 livros ao longo de sua vida. O crítico britânico Anthony Burgess uma vez afirmou que Huxley fora o pioneiro do "romance cerebral". No entanto, outras correntes de críticos classificaram Huxley como um ensaísta, ao invés de romancista, pois suas obras eram conduzidas mais apoiadas sobre suas ideias do que o desenrolar de personagens ou contextos de histórias

Outras obras:
* 1920 - Limbo, contos de estréia
* 1921 - Crome Yellow, romance
* 1923 - Antic Hay (Ronda Grotesca), romance
* 1926 - Two or Three Graces (Duas ou Três Graças), contos
* 1928 - Point Counter Point (Contraponto), romance
* 1932 - Brave New World (Admirável Mundo Novo), romance
* 1936 – Eyeless in Gaza (Sem Olhos em Gaza), romance
* 1937 - Ends and Means (Despertar do Mundo Novo), ensaios
* 1939 – After Many Summers (Também o Cisne Morre), romance
* 1941 – Grey Eminence (Eminência Parda), bibliografia romanceada
* 1943 – The Art of Seeing, ensaios
* 1945 - Time Must Have a Stop (O Tempo Deve Parar), romance
* 1946 – The Perennia Philosophy, ensaios
* 1949 – Ape and Essence (O Macaco e a Essência), romance
* 1952 – The Devils of Loudun (Os Demônios de Loudun)
* 1954 – The Doors of Perception (As Portas da Percepção), ensaios
* 1956 - Heaven and Hell (Céu e Inferno), ensaios
* 1959 – Brave New World Revisited (Regresso ao Admirável Mundo Novo), ensaios
* 1962 – Island, romance
* 1978 – The Human Situation (A Situação Humana), ensaios