Ou, Para Ler o estruturalismo
Durante minha formação acadêmica as palavras estrutura
e estruturalismo,
apareciam junto a seus derivados de maneira recorrente. Autores como
Lévi-Strauss, Lacan, Sartre, Barthes, Derrida, Foucault e outros
associados em maior ou menor grau ao estruturalismo eram e continuam
sendo recorrentes. O uso da palavra estrutura para definir mais do
que alguma questão arquitetônica, ou seja, física, é usado
constantemente e parece não despertar grandes dúvidas. Toda vez que
se procura explicar alguma questão social, mesmo por pessoas fora
dos círculos acadêmicos, expressões como “família
desestruturada”, “falta estrutura emocional”, “não houve uma
estrutura na formação do caráter”, procuram determinar aquela
situação ou sujeito. A indagação pessoal surge quando começo a
estudar as cidades, o que coincidiu com as notícias da Copa do mundo
no Brasil. Começou-se uma corrida pela “estruturação” do país.
Podemos perceber que desde a implantação de questões urgentes como
o transporte público até a criminalidade, começaram a passar por
algum tipo de estruturação ou re-estruturação. O uso dessa
palavra está associado a muito mais do que uma questão
arquitetônica. Antes de continuar, vale lembrar de que a arquitetura
é afinal de contas uma ciência que têm como objeto o homem, já
que é ele quem vai habitar e produzir aqueles lugares, aquela
estrutura. Com estas questões postas, ler o estruturalismo hoje de
uma forma consciente possa nos ajudar. E sobre isto é importante
deixar claro que a intenção aqui não é resgatar o estruturalismo,
mas sim entender um pouco melhor o que foi isto.
O estruturalismo será a grande teoria do pós-guerra. Autores sem
fim se associam em menor ou maior grau a este bastião teórico. O
curioso é que não existe uma definição muito lógica do
estruturalismo. O conceito mais próximo é a estrutura no seu
sentido arquitetural, aquilo que sustenta, que dá a base para todo o
resto da construção. Em alguns autores esta questão parece mais
rígida, como se uma grade procurasse definir as formas, e para
outros nem tão definida e determinante. Ocorre que é nítido após
a segunda-guerra mundial um uso cada vez maior desta coisa que é o
estruturalismo. Segundo aponta François Dosse
a arregimentação dos intelectuais em torno deste aporte teórico
ganha magnitude após a supressão da revolução húngara de 1956,
onde o modelo socialista-soviético-stalinista é posto em xeque e
começam a buscar uma alternativa ao marxismo, doutrina oficial do
Partido Comunista Francês ao qual estavam associados (formal ou
informalmente) vários estudiosos franceses.
Apesar da vertente marxista do estruturalismo, representada
principalmente por Althusser, Karl Marx deixa de ser uma noção
essencial para aquela época. É visível um forte apego aos estudos
de Marx após a Segunda Guerra em especial pelas necessidades e
questões postas por este momento histórico, dentre elas o nazismo,
porém a revolução húngara traz novas necessidades. Mesmo com este
abandono do marxismo (do qual somos herdeiros cada vez mais sinceros)
não podemos ignorar que pelo menos um pouco do conceito de estrutura
vêm deste pensador alemão. É comum indicar as origens do
estruturalismo nalguma coisa entre Saussure e Marx.
Mesmo sem uma grande leitura deste autor tão conhecido, podemos
perceber realmente que ele traz algumas questões estruturais. Alguns
elementos da exploração capitalista descrita por Marx ainda hoje
servem tão bem que muitas vezes esquecemos de historicizar sua
teoria e perceber que nosso tempo já é outro – e sim, ainda somos
explorados, porém não da mesma forma que no século XIX. O
marxismo, talvez mais do que o próprio Karl, nos trazem algumas
questões chave que parecem determinar nossa sociedade. É por este
caminho que Lévi-Strauss se embrenhava quando começou a aventura
estruturalista.
O que este francês formado em filosofia, porém que se descobre
antropólogo nas matas brasileiras, propõem é buscar princípios
norteadores do homem. É uma questão muito científica e direta: “a
estrutura é coisa diversa do que eu denominei por organização, mas
também que ela nos dá a chave de um funcionamento”.
Desde Lévi-Strauss há esta que parece ser a única definição do
que é o estruturalismo, uma busca pelos elementos chave da sociedade
(por isso a dívida com Marx), e estes elementos são diretos ao
Homem.
Não se viam enquanto um movimento determinado, muitos autores
inclusos neste rol de autores se autoexcluem e não existe um método
ou teoria definido e perceptível em comum entre todos os chamados
estruturalistas. O que é fácil perceber é que eles, seja um
linguista ou um antropólogo, buscam compreender e identificar os
pontos chave da sociedade. No caso de Lévi-Strauss teremos o famoso
caso do incesto, tabu visível em toas a sociedades. Enquanto
antropólogo, ou seja, de estudar o Homem enquanto espécie,
Lévi-Strauss identifica um elemento comum ao homem, algo que compõem
sua estrutura em todas as sociedades – logo a todos os homens.
Não é fácil falar sobre este
movimento, tão claramente visto como importante, mas deixado a
distância. Ninguém mais aceita ser chamado de estruturalista,
entretanto lemos vários autores que já receberam esta nomenclatura
em algum momento. O que ocorre e fico com a herança mais forte deste
mote teórico é a crença em elementos estruturais para com o homem,
seja as instituições (escolas, prisões, sanatórios, etc), sejam
os costumes (burgueses, machistas...), a própria arquitetura
(panóptico como o exemplo mais claro) ou este turbilhão indefinido
que se chama cultura, há pontos chave nestes elementos tão
respectivos ao homem. Entretanto o grande crime dos estruturalistas
foi apostar muitas fichas no peso desta estrutura, quando elementos
que vão desde o indivíduo até as rupturas existem e acabam levando
a estrutura para segundo plano. Não acredito que precisamos retornar
ao termo, mas sim saber que seus reflexos ainda estão ali. Pois
segundo tudo indica usamos mais do que a palavra, também somos
herdeiros desta linha de pensamento, mesmo não o usando mais.
