quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Processo - Franz Kafka

Diferente do que vinha fazendo aqui, não farei aqui uma espécie de sinopse do livro somado a uma explicação ou algo semelhante do livro, até porque o livro escolhido não merece ter seu enredo desvelado tão toscamente, entendo que ele exige uma maneira lenta e densa de se fazer, assim como o desenrolar da história se dá. Além disto, uma análise, minimamente profunda, comprometida e não meramente especulativa demandaria um longo tempo de estudo, tempo este que agora não tenho. Bem, sem mais blábláblá, deixo aqui minha exposição sobre as possibilidades que vertem do livro e as impressões que ele me deixou de maneira en passant, o livro de que falo é “O Processo” de Franz Kafka.

Kafka está entre os autores de que mais gosto, ou mais precisamente um dos escritores que me são mais interessantes.

Franz Kafka (František Kafka) nasceu em Praga, capital da atual República Checa, já na segunda metade do ano de 1883, dentro de uma família judia de classe média. Para os que sabem um pouco da vida do autor sabem que há na relação dele com seu pai um conflito, um tipo de questão “não resolvida” ou não normal, que se refletirá em diversos de – se não em todos – seus textos.
Repetidamente em suas obras vê-se o personagem mergulhado em uma história que mais parece um sonho bizarro – em todos os sentidos do termo –, pondo o personagem em circunstâncias que pareceriam anteriormente inimagináveis – daí a expressão “Kafkiano”.
Não é diferente no caso de “O Processo” onde o personagem principal K – uma provável referência a si, muito constante em seus escritos “principais” (A Metamorfose, O Castelo, etc.), passa por diversas dificuldades no decorrer do livro dificuldade extremamente “impares” e uma incrível presença de um aparelho burocrático que constantemente impede os intentos de K, frustras suas tentativas, causa-lhe cansaço, e muitas vezes “vence” no embate contra indivíduo.

A exemplo disto, uma das demonstrações das situações Kafkianas são os departamentos jurídicos que ficam instalados nos sótãos de algumas casas, bem como escondidos, camuflados em construções que não revelam a quem não adentra seu caráter de instituição.

Penso que o livro pode, talvez até deva ser lido a partir de um dimensão maior que uma simples historinha que remete a indivíduos específicos, mesmo, ao que parece, quando Kafka remete-se a si, ponde-se no livro como personagem, ele parece o fazer dentro de estereótipos, dentro de uma representação menos pessoal do autor e mais ampla de uma sociedade extremamente burocrática, vigilante, arriscaria controladora e por que não disciplinar, mas mais que isso que incide sobre os indivíduos sem que eles se dêem conta de que ela é uma “maquinaria” ou um outro corpo, mas sim tomando-a como necessária à existência e intrínseca aos humanos.

Em sua maneira pesada, arrastada, consideravelmente difícil de ler Franz Kafka produz um livro extenso, O Processo – em sua versão Pocket da L&PM – comporta quase trezentas páginas, somando-se o texto principal e os adendos. Vale ressaltar que o livro encontra-se incompleto e a sequência dos capítulos não foi precisamente posto por Kafka, havendo divergências quanto qual deveria ser a ordem destes, Os manuscritos de “O Processo” foram entregue a Max Brod – amigo pessoal de Kafka – em 1920, porém só viriam a ser publicado póstumos em 1925, um ano após a morte do autor.


Obras de Kafka:
  • Cenas de um Casamento no Campo (1907)
  • Considerações (1908)
  • Aeroplano em Brescia (1909)
  • Amerika (1910,1927)
  • O Veredicto (1912)
  • A Metamorfose (1912, 1915)
  • A Sentença (1912, 1916)
  • Meditação (1913)
  • Contemplação: O Foguista (1913)
  • Diante da Lei (1914, 1915)
  • A Colônia Penal (1914, 1919)
  • O Processo (1914,1925)
  • Um Relatório para a Academia (1917)
  • A Preocupação de um Pai de Família (1917)
  • A Muralha da China (1917, 1931)
  • Carta ao Pai (1919)
  • Um Médico Rural (1919)
  • Poseidon (1920)
  • Noites (1920)
  • Sobre a Questão das Leis (1920)
  • Primeiro Sofrimento (1921)
  • Cartas a Milena (1920, 1923)
  • Investigações de um Cão (1922)
  • Um Artista da Fome (1922, 1924)
  • O Castelo (1922, 1926)
  • Uma Pequena Mulher (1923)
  • A Construção (1923)
  • Josefina, a Cantora ou O Povo dos Ratos (1924)
  • Sonhos

Filmes relacionados:
  • The Trial - Orson Welles (1963)
  • The Castle - Rudolph Noelte (1968)
  • Informe para una academia - Carles Mira (1975)
  • The metamorphosis of Mr. Samsa - Caroline Leaf (1977)
  • Informe per a una acadèmia - Quim Masó (1989)
  • Kafka - Steven Soderbergh (1991)
  • The Metamorphosis of Franz Kafka - Carlos Atanes (1993)
  • Amerika - Vladimir Michalek (1994)
  • Das Schloss - Michael Haneke (1996)
  • La metamorfosis - Josefina Molina (1996)
  • The Trial - David Hugh Jones (1996)
  • Metamorfosis - Fran Estévez (2004)

terça-feira, 18 de maio de 2010

O Roubo da História - Jack Goody

Livro que trata sobre como a história, de forma geral, se tornou estritamente ocidental, ignorando o oriente.

O oriente muito me interessa, principalmente por termos nossa visão preconceituosa sobre eles. Visão de incivilizados e de povos atrasados. Okay, você já deve ter ouvido falar da história da bússola e da pólvora, mas há muito mais.

Uma das principais perguntas, tendo como base o trabalho de Max Weber, em especial o “a ética protestante e o espírito capitalista”, é compreender o que levou o ocidente (o que num passado mais remoto significa a Europa), a tornar-se num dos continentes mais poderosos, sendo pouco tempo antes, um dos mais fracos. Em resumo, seria algo como, se daqui a 100 ou 200 anos (talvez menos), os países mais ricos fossem africanos, e não europeus. O que houve de excepcional na Europa. Podemos dizer que esta pergunta em especial já foi feita por Weber.

Bem, no oriente tínhamos um comércio mais desenvolvido, havia a ciência, foi na China que inventaram o papel e os primeiros modelos de prensa. Enquanto na Europa, haviam castelos de pedra, úmidos, doenças sem fim e toda sorte de azar. Por algum acaso, aquele continente sem grande tradição comercial, conseguiu superar o oriente com toda a sua tradição (não a toa temos o arquétipo do árabe negociante).

Outros questionamentos são os de valores. Quando ouvimos falar de amor romântico buscamos sua origem principalmente no trovadorismo e romantismo, movimentos estritamente europeus. Enquanto um dos livros sobre amor mais famosos (Kama Sutra), tenha sido produzido no mundo oriental. Também os gregos são questionados quanto ao seu tradicional papel de democráticos. Não faz isto analisando a democracia grega, mas de uma forma mais simples, cita algumas tribos africanas que já se utilizavam de sistemas por vezes mais democráticos que os nossos atuais, e antes mesmo dos gregos.

O interessante é o olhar jogado para esse oriente, que generalizamos e ignoramos. Sufocamos nosso contato com eles, e geralmente queremos lhes impor nossos valores. Não procuramos pensar e olhar para o oriente considerando a cultura lá existente como válida. Este livro me ajudou a dar mais um passo a esse caminho.

Mesmo assim, o livro seria só um panorama. Porém traz boas discussões. Interessa a quem quer conhecer e entender o oriente (de forma geral).

365 páginas.