quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Robinson Crusoé - Daniel Defoe (adaptação)

Definitivamente adoro livros infantis, e o fator que me impede em compra-los é simples, acabam custando caro para o hábito de leitura que tenho hoje. Como eles têm muitas imagens coloridas, acabam encarecendo (tinta, papel, ilustrador, tudo isto custa!), e talvez por isso muitos pais evitam investir dinheiro nisto. Meu pai por exemplo vivia me recomendando a biblioteca pública ou da escola, enquanto por outro lado eu procurava deixar bem claro que eu queria o livro pra mim, queria ter ele na minha mão e na minha estante (burguesinho não?).
Desde que li o texto de Walter Benjamin sobre os livros infantis, minha atenção sobre eles se fez presente sempre que possível. Revirando agora minha estante, do limbo retirei este livro da companhia das letrinhas que é uma adaptação para as crianças do famoso livro de Daniel Defoe. Hoje em dia percebo que o livro é muito bem feito, seu papel é bom e está recheado de imagens, além de que nas bordas temos várias explicações sobre coisas da época como: costumes, roupas, equipamentos, geografia. O fantástico é que traz mais do que a história adaptada, ela é toda contextualizada, de maneira simples e direta (crianças afinal, não desejam se aprofundar com vistas numa carreira acadêmica). Imagino que todos estes elementos faziam com que o livro custasse caro, e por isso tive que pedi-lo de natal. Junto ganhei a edição de o Médico e o monstro, da mesma coleção.
Lembro que o livro já abordava questões básicas da obra, lhe ajudando a interpretar. Elemento ótimo, que incentiva a fazer mais do que ler uma história, mas procurar buscar algum sentido nela – mesmo que este sentido seja só seu. Pelo que me recordo, possuí durante muito tempo a crença de que se poderia viver isolado da civilização, da mesma forma que em algum momento da minha vida passaria por uma grande aventura (tal qual Crusoé). Por essas e outras naquela época já ficava de olho nas editoras dos livros e adotei a companhia das letras como uma das minhas editoras favoritas, pelo que vejo eles sempre procuram manter um trabalho de qualidade em seus livros.
Este livro me gera um carinho especial, pois foi por meio dele que me iniciei em definitivo no mundo das letras. Recordo que enquanto passava o verão na praia e lia o livro, meu amigo me chamava para brincar e escutava de mim: “espera um pouco, só vou terminar de ler”, ele insistia para que eu fosse e eu dava a mesma resposta, por fim ele enfatizou: “vamos, ler é chato!”. Pode ser que me senti mal na época por ser chamado de chato pelo meu melhor amigo, mas prefiro acreditar que dei uma risadinha e fui brincar.

domingo, 20 de outubro de 2013

Estruturalismo: Antologia de textos teóricos - Eduardo Prado Coelho (org.)


Ou, Para Ler o estruturalismo

Durante minha formação acadêmica as palavras estrutura e estruturalismo, apareciam junto a seus derivados de maneira recorrente. Autores como Lévi-Strauss, Lacan, Sartre, Barthes, Derrida, Foucault e outros associados em maior ou menor grau ao estruturalismo eram e continuam sendo recorrentes. O uso da palavra estrutura para definir mais do que alguma questão arquitetônica, ou seja, física, é usado constantemente e parece não despertar grandes dúvidas. Toda vez que se procura explicar alguma questão social, mesmo por pessoas fora dos círculos acadêmicos, expressões como “família desestruturada”, “falta estrutura emocional”, “não houve uma estrutura na formação do caráter”, procuram determinar aquela situação ou sujeito. A indagação pessoal surge quando começo a estudar as cidades, o que coincidiu com as notícias da Copa do mundo no Brasil. Começou-se uma corrida pela “estruturação” do país. Podemos perceber que desde a implantação de questões urgentes como o transporte público até a criminalidade, começaram a passar por algum tipo de estruturação ou re-estruturação. O uso dessa palavra está associado a muito mais do que uma questão arquitetônica. Antes de continuar, vale lembrar de que a arquitetura é afinal de contas uma ciência que têm como objeto o homem, já que é ele quem vai habitar e produzir aqueles lugares, aquela estrutura. Com estas questões postas, ler o estruturalismo hoje de uma forma consciente possa nos ajudar. E sobre isto é importante deixar claro que a intenção aqui não é resgatar o estruturalismo, mas sim entender um pouco melhor o que foi isto.
O estruturalismo será a grande teoria do pós-guerra. Autores sem fim se associam em menor ou maior grau a este bastião teórico. O curioso é que não existe uma definição muito lógica do estruturalismo. O conceito mais próximo é a estrutura no seu sentido arquitetural, aquilo que sustenta, que dá a base para todo o resto da construção. Em alguns autores esta questão parece mais rígida, como se uma grade procurasse definir as formas, e para outros nem tão definida e determinante. Ocorre que é nítido após a segunda-guerra mundial um uso cada vez maior desta coisa que é o estruturalismo. Segundo aponta François Dosse1 a arregimentação dos intelectuais em torno deste aporte teórico ganha magnitude após a supressão da revolução húngara de 1956, onde o modelo socialista-soviético-stalinista é posto em xeque e começam a buscar uma alternativa ao marxismo, doutrina oficial do Partido Comunista Francês ao qual estavam associados (formal ou informalmente) vários estudiosos franceses.
Apesar da vertente marxista do estruturalismo, representada principalmente por Althusser, Karl Marx deixa de ser uma noção essencial para aquela época. É visível um forte apego aos estudos de Marx após a Segunda Guerra em especial pelas necessidades e questões postas por este momento histórico, dentre elas o nazismo, porém a revolução húngara traz novas necessidades. Mesmo com este abandono do marxismo (do qual somos herdeiros cada vez mais sinceros) não podemos ignorar que pelo menos um pouco do conceito de estrutura vêm deste pensador alemão. É comum indicar as origens do estruturalismo nalguma coisa entre Saussure e Marx.
Mesmo sem uma grande leitura deste autor tão conhecido, podemos perceber realmente que ele traz algumas questões estruturais. Alguns elementos da exploração capitalista descrita por Marx ainda hoje servem tão bem que muitas vezes esquecemos de historicizar sua teoria e perceber que nosso tempo já é outro – e sim, ainda somos explorados, porém não da mesma forma que no século XIX. O marxismo, talvez mais do que o próprio Karl, nos trazem algumas questões chave que parecem determinar nossa sociedade. É por este caminho que Lévi-Strauss se embrenhava quando começou a aventura estruturalista2. O que este francês formado em filosofia, porém que se descobre antropólogo nas matas brasileiras, propõem é buscar princípios norteadores do homem. É uma questão muito científica e direta: “a estrutura é coisa diversa do que eu denominei por organização, mas também que ela nos dá a chave de um funcionamento”3. Desde Lévi-Strauss há esta que parece ser a única definição do que é o estruturalismo, uma busca pelos elementos chave da sociedade (por isso a dívida com Marx), e estes elementos são diretos ao Homem.
Não se viam enquanto um movimento determinado, muitos autores inclusos neste rol de autores se autoexcluem e não existe um método ou teoria definido e perceptível em comum entre todos os chamados estruturalistas. O que é fácil perceber é que eles, seja um linguista ou um antropólogo, buscam compreender e identificar os pontos chave da sociedade. No caso de Lévi-Strauss teremos o famoso caso do incesto, tabu visível em toas a sociedades. Enquanto antropólogo, ou seja, de estudar o Homem enquanto espécie, Lévi-Strauss identifica um elemento comum ao homem, algo que compõem sua estrutura em todas as sociedades – logo a todos os homens.
Não é fácil falar sobre este movimento, tão claramente visto como importante, mas deixado a distância. Ninguém mais aceita ser chamado de estruturalista, entretanto lemos vários autores que já receberam esta nomenclatura em algum momento. O que ocorre e fico com a herança mais forte deste mote teórico é a crença em elementos estruturais para com o homem, seja as instituições (escolas, prisões, sanatórios, etc), sejam os costumes (burgueses, machistas...), a própria arquitetura (panóptico como o exemplo mais claro) ou este turbilhão indefinido que se chama cultura, há pontos chave nestes elementos tão respectivos ao homem. Entretanto o grande crime dos estruturalistas foi apostar muitas fichas no peso desta estrutura, quando elementos que vão desde o indivíduo até as rupturas existem e acabam levando a estrutura para segundo plano. Não acredito que precisamos retornar ao termo, mas sim saber que seus reflexos ainda estão ali. Pois segundo tudo indica usamos mais do que a palavra, também somos herdeiros desta linha de pensamento, mesmo não o usando mais.
1DOSSE, François. História do estruturalismo, v. 1: o campo do signo, 1945-1966. São Paulo: Ensaio; Campinas, SP: editora da universidade Estadual de Campinas, 1993.
2O próprio Claude Lévi-Strauss fora um assíduo leitor de Karl Marx durante seus anos de juventude. O mesmo se põem para praticamente todos os membros fundadores da escola estruturalista, para mais detalhes ver: DOSSE, François. História do estruturalismo, v. 1: o campo do signo, 1945-1966. São Paulo: Ensaio; Campinas, SP: editora da universidade Estadual de Campinas, 1993.
3POUILLON, Jean. Uma tentativa de definição. In: COELHO, Eduardo Prado (org.). Estruturalismo: antologia de textos teóricos. Lisboa: Protugália editora, 1968, p. 13.